quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Natal e Ano Novo

1 ano que se passou.
1 ano em que se passou muita coisa.
Depois do ano turbulento que foi 2010, veio um ano de calmaria e paz, o ano que foi 2011.
Agradeço aos poucos que passaram comigo.
Agradeço aos poucos que fizeram e ainda fazem parte da minha vida.
Agradeço ao meu coração.
Hoje, completo.
Agradeço aos meus amigos, que me apoiaram, que me ajudaram, que riam comigo, que brigaram comigo, que beberam comigo, que cairam comigo, que viveu comigo.

2011 foi um ano de evolução.
Um ano em que aprendi a ser mais calmo.
Ter mais objetivos e realizá-los.
2011 foi um ano em que aprendi a parar de correr e viver.

Ao lado dos meus amigos, aprendi que não preciso criar situações para rir, pra ser feliz. Que só preciso ser e querer ser feliz.
Ao seu lado meu amor, aprendi a ser mais calmo, mais centrado. Aprendi a parar de me degrenir, me acabar.
Como disse, 2011 foi um ano de aprendizagem.

E eu agradeço, cada passo que eu dei, cada coisa que eu vivi e cada passo que eu darei e cada coisa que viverei.
Obrigado à todos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

E dessa vez, de coração

Sinto falta dos sorrisos fáceis.
Sorrisos sem compromisso.
Sinto falta daquela mágica.
Sinto falta de sentir aquela mão me puxando pra cima.

Mas o mesmo tempo que eu vejo que nada mais me puxa pra cima, vejo você ao meu lado.
Andando, correndo e crescendo ao meu lado.
Traçando sempre um objetivo e correndo até ele.
Confesso que eu sempre tento alcançar dois ou três, atropelando nós mesmos, mas eu sou assim, sempre fui assim.

Ao meu lado é o seu lugar, ao seu lado é o meu, então pra que discutirmos?

Um dia eu falei pra você, eu sou muito mais racional do que sentimental, mas hajo, na grande maioria das vezes, pelo impulso, é nessa hora que você surge, me barrando, me fazendo sentar e pensar.
Você sabe cada passo meu, cada movimento meu e cada pensamento.
Prevê cada jogada, tal qual um jogador de xadrez habilidoso e nós somos assim.
Eu te oriento quando precisa, te mostro um caminho, te falo sobre coisas que já passei, pra tentar te ensinar uma coisa ou outra, tal qual um velho ancião de uma aldeia pequena.
Pequena o suficiente pra caber nós dois. Só nós dois.

Um coração e seu dono lembra disso?

Tango

Palavras.
O que são elas pra você?
Textos escritos, feitos para fixar uma ideia que se tornou realidade.
Mas você gosta de cada uma dessas letras, desses rabiscos tortos, desses sentimentos expostos.

Dançando uma valsa, um tango, dançando nossos dias juntos.
Fazendo tudo isso rodar e se repetir.

Nossos dias monótonos, em que sentamos na sala, vc deita no meu colo e eu te faço cafuné.
Nossos dias agitados, em que nos trocamos e vamos no El Dourado, assistir algum filme que esteja passando, ou só ir até a esquina da sua casa.
Só precisamos ficar juntos.

Essas palavras, cada linha desses meus textos, hoje, já não fazem muita diferença.. Pra mim.
Hoje eu vivo, sonho e tento realizar.
Realizar sonhos, me realizar e realizar cada sonho seu, cada desejo seu, cada pensamento seu.
Então vamos dançar esses nossos dias, que são tão curtos e passam tão rápidos que mal podemos ver.

Eu só quero te abraçar forte, ver você ficar vermelha quando eu te aperto, sentir o seu cheiro, escutar seu coração e saber que cada batida dele, é direcionada à mim, igual o meu próprio coração hoje. Cada batida do meu coração está ligada a cada batida do seu. E eu só preciso disso pra mim.
É dessa confirmação.

Coração do meu céu, por favor, seja feliz.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Família êh! Família ah! Família!

DIzem que família você não escolhe, você já nasce dentro de uma.
Aquele seu tio louco que, quando você era pequeno, te pegava pela barriga e fazia você enconstar o pé no teto, fazendo a sua vó ficar louca.
Aquele irmão da sua vó, sem graça, que até hoje faz a piada do pavê.
A sua mãe louca, bipolar..Agora ela te ama, em 5 minutos te odeia, em mais 5 ela tá carente, em outros 5 ela não te quer por perto.
Esse é o meu conceito de família.
Essa parte genética você não escolhe.

Mas e a família que você escolhe?
Aquela que você sempre quer por perto?
Que sempre sabe de tudo?
Essa é importante também.
Eles sabem todos os seus segredos, dividem seus sonhos, compartilham suas tristezas.
Cada um tem o seu papel.
A conselheira.
A irmã.
A amiga pra todos os roles.
O amigo/irmão.
A amiga mãezona.
Em cada família de amigos, vemos esses tipos.
Cada um com sua utilidade, seu jeito, seu humor, seu amor.

Obrigado família.
Família êh! Família ah!
Família!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Tetris

Peças que se encaixam.
Que se colorem.
Que se harmonizam.

Peças que se unem.
Que se transformam.
Que se unificam.

Peças de renovação.
Que somem com as anteriores.
Pra dar altura pra mais recente.

Degraus coloridos.
Verde, vermelho, amarelo e azul.
Cada um formando a sua própria escada.
Sua própria história.
Sua própria coloração.

Então, pra que dificultar, se você pode ser a minha peça de encaixe perfeita.
Aquela que não sobre espaço.
Aquela que contém a cor que combina com a minha.
Aquela que será o degrau que eu precisarei pra subir e que, depois, você me use como seu degrau, na sua escalada.

Diga-me a lógica disso tudo.
E eu te explico a lógica desse texto.
Escrito em linha tortas.
Em uma escada torta.
Por falta de um degrau essencial.

A flor da pele

Transparência.
É isso o que me define.
É fácil saber o que eu sinto.
Quando eu minto.
Quando eu quero.

E eu raramente tento esconder algo.

Tento às vezes, mas sei que é difícil e na maioria das vezes, falho.

Mas sou simples.
Não no jeito de ser, eu sei ser bem enjoado.
Acho que a palavra simples não é a correta.
Acho melhor usar três palavras para me definir.
De fácil leitura.

É fácil me ler.
Me entender.
Me compreender.

É fácil saber quando estou irritado.
Quando estou nervoso.
Quando estou alegre.
Quando estou apreensivo.
Ou quando sinto qualquer coisa.
Elas não ficam explícitas só no brilho do meu olho.
Ficam explícitas na tremedeira da minha mão.
Na minha respiração ofegante.
Na minha voz falhando com mais frequência.

Então, pra que e por que deixamos essa tempestade atrapalhar toda essa era de bonança em que estávamos?
Impulsivo sou eu.
Rancorosa é você.

Sou de carne e osso também.
Mas de um material mais maleável?
Talvez.
Não sei.
Um material mais parecido com borracha?
Talvez.
Não sei.
Ainda não aprendi de qual material é feito.
Algo mais duro?
Mais firme?
Mais sólido?
Acho que as três coisas ao mesmo tempo.

Sei que a gente se completa.
Eu mole, te deixando mais maleável.
Você, mais sólida, me dando mais firmesa nas coisas.

Eu expando.
Você fixa.
Eu laceio.
Você conforta.

E é assim que deveria ser.

Um momento que passou

Passado aquele momento da calmaria, sempre vem a tempestade.
E sempre o pior tipo.
Daquele que balança um navio.
Que destrói um mundo.

Palavras ditas.
Olhares tortos.
Mudança de tom.

Calmaria.
Onde está?
Não me peça para entender.
Eu não entendo olhos.
Eu não entendo reflexos.
Eu não entendo brilhos.

Eu sou puro texto.
Pura gramática.
Posso até dizer que sou pura matemática.
Exatamente exato.

Não entendo sujeitos ocultos.
Não sei localizar um advérbio.
Mas, também, não sei resolver uma equação com incógnitas.
Não sei localizar o X.
Nunca saber te responder o que você faz com o Y.
Então, se fujo da gramática e das contas.
O que resta pra eu entender?
Simples, assim como 2 mais 2 é igual a 5.

O contexto, o texto, o parágrado, a palavra certa.
"Palavra.
Tenho que escolher a mais bonita
Para poder dizer coisas do coração
Da letra e de quem lê
Toda palavra escrita, rabiscada
No joelho, guardanapo, chão
Ponto, pula linha, travessão"

O Garoto

O Garoto corre.
Corre atropelando sonhos.
Corre atropelando desejos.
Corre atropelando sentimentos.

O Garoto corre.
Corre com a vida.
Corre para a vida.
Corre da vida.

O Garoto corre.
Corre por oportunismo.
Corre por impulso.
Corre por mania.

O Garoto corre.
Corre de você.
Corre até você.
Corre para você.

Indo.
Vindo.
Voltando.
E seguindo o mesmo ciclo.
Indo.
Vindo.
Voltando.
Para onde nunca deveria ter ido.
De onde nunca deveria ter saído.
Para onde repousará sem paz.

Eu não sei ver olhos.
Eu não sei ver brilhos.
Eu só ouço palavras.
E gestos.
Eu sou uma pessoa simples.
Não me peça complicações.

O Garoto corre.
Atrás do vento.
Sendo guiado pela luz.

A luz que emana do seu cabelo.
A luz que emana do seu sorriso.
A luz que emana de você.

O Garoto corre.
Por mania.
Por hábito.
Por jeito.

Jeito de criança no corpo de um adulto.
Achando que pode viver tudo de uma vez.

Corra Garoto corra.
Só não corra muito.
Pois você pode deixar algo passar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Em resposta

Em resposta ao que eu escrevi.
Eu ouvi.
Eu disse e entendi.
Afastei meus medos.
Meus anseios, minhas incertezas.
Minha insegurança.

Afastei uma pequena sombra que surgia em nosso horizonte ensolarado.
Afastei qualquer sombra de tempestade e chuva que assolava meu peito apertado.

Agora eu posso dormir tranquilamente, sabendo que, com toda certeza, que você estará aqui pra mim.
Pra sempre.

Eu queria

Eu queria poder dizer algo bonito aqui hoje.
Eu queria poder dizer algo que fizesse sentido.
Eu queria poder dizer que estou seguro.
Que estou calmo.

Eu queria poder dizer que meu dia está bom.
Eu queria poder dizer tudo o que eu vi e li para você.
Mas não posso.

Mas eu queria.
Queria que você soubesse, que você se lembrasse, que você me dissesse.
Que você me explicasse.
Me explicasse como em, um dia, tudo se transformou.

Confusão

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 8

Bem meu caro colega.
Vimos que eu perdi minha perna na página anterior.
Vimos também um dos meus primeiros romances.
Josy nunca será esquecida. Isso é verdade.
Mas muitas coisas aconteceram depois disso.
Irei relatar tudo à vocês, com certeza irei.
Vamos começar então?

O ano é 1970.
A Alemanha começava o processo de unificação dos dois estados.
Vários tratados.
As guerras civis diminuiam.
Nunca mais ouvi sobre Mark, apenas imaginava onde ele estava.

5 anos após ter perdido a perna, eu continuava do mesmo jeito.
Meio carrancudo, calado.

Um dia, andando na rua, indo tomar um café em uma boteco de esquina perto de casa, ouço um menino gritando:

-Extra! Extra! Tratados em prol da Unificação começam a serem feitos! Será que dessa vez nosso país se acalma?! - disse o menino levantando um jornal.
Um papel cinza, meio sujo.
Mas dentro desse papel, dentro dessa coisa aporcalhada, contia informações.
E isso me facionou.
O jeito de ganhar conhecimento.
Transmitir conhecimento.

Confesso que eu fui um zero à esquerda na escola.
Bom, vocês leram a minha passagem por aquele inferno.
Mas, se tinha algo que eu gostava de fazer, era de ler.
E eu lia.
Lia muito.
Principalmente agora, que a prótese havia me debilitado ainda mais.
Andar muito, depois de algum tempo, me cansava.
A prótese machucava.
Então, eu sentava.
Em qualquer lugar.
Com um livro nas mãos para fazer o tempo passar.
Oh meu deus.
Divaguei de novo.
Vamos voltar à história.

Comprei o jornal do menino.
Li a matéria inteira.
E fiquei fascinado com aquilo.
COm o jeito como o redator transmitia a informação.
Como foram feitas as entrevistas.
A coragem daquele editor para publicar algo assim.
Falando do atual governo.

A partir daí, o mundo jornalístico me fascinou.
Comecei a ler mais e mais.
Mas não mais livros de fantasia.
Comecei a ler livros técnicos.
Livros de escrita.
E comecei a rabiscar algumas folhas, mas nada me parecia bom.
Talvez, não levasse jeito para a coisa.

Passaram-se 3 anos.
O ano, obviamente, era 1973.
As duas Alemanhas entram para a ONU.
Como eu disse anteriormente, o início da pacificação.
Os jornais corriam soltos pela rua.
E todo dia, toda edição, eu comprava.
E devorava.

Consegui um emprego novo nesse meio tempo.
Essa é a minha memória se tornando falha.
Depois do meu acidente em 1965, não durei muito tempo como gerente daquele antigo mercado.
Em 1970, que é o ano em que começo essa parte da minha história, eu já havia saído daquele lugar.
Consegui alguns bico aqui e ali, mas minha condição física me dificultava a conquista de um emprego melhor.
Me achavam incapaz.

Mas, um dia, em um café por aí, enquanto eu tentava fazer aqueles meus rabiscos, aquelas minhas linhas tortas, escrevi algo sobre a unificação.
Claro, eu não sabia não impor meu ponto de vista e todos sabem que, numa redação, não devemos impor nosso ponto de vista correto?
Mas eu não tinha essa técnica, fui apenas falando.
E, por sorte, um dos redatores do jornal que eu comprava, fielmente, a cada edição, estava no mesmo lugar que eu.

- Hey! Você é leitor do nosso jornal! - dizia ele enquanto se sentava em minha frente. Um bom observador, eu pensei. Ele me viu segurando o jornal.
- É, eu leio esse jornal sim. Eu gosto dele. Mas por que você diz nosso? - perguntei meio desconfiado. Nunca fui muito sociável e vocês sabem disso, então um estranho vem e senta na minha frente e começa a falar comigo. Achei estranho.
- Sim, me desculpe. Deixa eu me apresentar. Meu nome é Robert, Robert Fulton. Sou um dos redatores do jornal. - ele disse esticando a mão. Cumprimentei-o, embasbacado. - Olha, você escreve? - ele me perguntou, puxando meu bloco de anotações. Tentei segurá-lo, mas ele foi mais rápido. E se pos a ler aquilo tudo. Todas aquelas baboseiras que escrevi.
- Huum. - um murmurio vindo dele. Isso me assustou.
- Esse bloco é apenas um monte de linhas tortas, um monte de coisas escritas ao acaso. - disse eu tentando recuperar minhas páginas. Ele se esticou e se posicionou fora do meu alcance.
- Um monte de linhas tortas, mas com um potencial para se tornarem linhas certas meu caro.. desculpe, qual seu nome mesmo? - disse ele me devolvendo meu bloco
- Eu é que peço desculpas. Meu nome é Terry Rudloff. E, como assim, potencial para se tornarem linhas certas? - retruquei, meio nervoso, meio exasperado.
- Foi isso o que eu disse. Elas tem potencial para se tornarem linhas certas. - respondeu Robert enquanto olhava em seu relógio. Um bonito relógio, caro pelo jeito. Couro preto. Detalhes em ouro. Seria possível que ele fosse apenas um redator? Me perguntei - Bom Terry. Tenho que ir. Pega aqui meu cartão. Se quiser transformar essas linhas tortas em linhas certas, me procure.

E ele se levantou.
Quando ele saiu, eu olhei o cartão dele.
Robert Fulton. Redator-Chefe do jornal.

E foi assim, ou pelo menos, quase assim, que começou a minha caminhada até essa máquina velha de escrever.
Calma meu querido.
Isso não quer dizer nada.
Como eu venho falando desde o começo, tudo aqui me levou a me sentar na frente dessa máquina de escrever.
Nada ainda foi definido.
Nada ainda foi "escrito".
Calma meu caro caríssimo.
Ainda tem muita história pela frente... Ou talvez não.
Quem sabe?

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 7

Olá meu caro caríssimo, não pense que eu me esqueci de você.
Só precisava de um tempo para arrumar minhas ideias.
Pensar sobre meu passado e tentar colocá-los nessas minhas linhas tortas.



Bem, 1962 foi um ano marcante.
Como vocês podem imaginar.
Minha mãe não foi solta.
Mas não esperou o julgamento.
Se matou.
Ouvi dizer que morreu chamando pelo meu pai.
Ela já havia morrido há muito tempo, eu acho.

Eu não fui ao velório.
Na verdade, eu fui, mas não participei.
Fiquei ao longe, olhando como um telespectador, como se estivesse apenas andando por ali na hora do enterro.
Não tinha mais de 20 pessoas.
Colegas de trabalho.
Nunca perguntei no que minha mãe trabalhava.
Nunca me importei.
E depois disso, os anos voaram.

Em 1965, eu já era gerente do supermercado.
Controlava tudo.
Operadores de caixa, área administrativa, funcionários da limpeza.
Cuidava de tudo.
Mas não cuidava de mim.
Como eu disse, eu havia adotado a rua e a bebida como minha família e irmãos.
E assim eu vivi.
Ou tentei.

Voltando para casa, mancando mais do que o normal, como se não bastasse ser manco, ainda bebo.
Devo ser um bastardo mesmo.
Não vi o carro.
Simplesmente não o vi.
E ele me viu.
Tenho certeza.
Mas não conseguiu parar.
Eu só lembro do barulho.
E da dor, e que dor.
E depois a escuridão.

Não sei quanto tempo eu apaguei.
Só lembro que, quando eu acordei, ainda meio sonolento.
Senti algo estranho em minha perna.
Na verdade, eu não sentia minha perna direita.
A mais afetada pela polio.
Olhei para baixo e constatei.
A perna não estava mais lá.
Claro, entrei em desespero.
Clamei por ajuda, gritei por socorro e o socorro veio como um belo par de olhos mel, um cabelo castanho, bem claro, um corpo esguio e um sorriso lindo.
Tudo bem, na hora eu não prestei atenção em nada disso, só tentei ser poético.
Perdoe a minha falha.
Voltando à minha dor.
Eu perguntei o que havia acontecido.
Eu tinha polio, mancava, MAS AINDA TINHA UMA PERNA!
Lembro de ter gritado isso pra enfermeira.
Josy era o nome dela.
Lembro de ter visto no crachá.
E ela me contou.

O carro, a batida em si, não foi tão forte.
Se minha perna fosse perfeita, ou pelo menos, tão perfeita quanto é algo humano, ela teria aguentado, com uma fratura ou duas, mas aguentado.
Mas, por causa da polio, minha perna era meio definhada e não aguentou.
Nem a batida, nem o ralado depois que o carro passou por cima de mim.
Josy disse que, quando eu cheguei no hospital, não foi uma cena bonita de se ver.
O sangue escorria de minha perna.

Bom, resumindo...
Eu perdi uma perna.
Mas, com todo o dinheiro que eu vinha juntando, eu consegui uma prótese.
Na época, naquela época, era algo grotesco, bruto, mas, melhor do que ficar com aquele toco de perna.
Bom, nos 15 dias que eu fiquei internado do pós-cirurgia, até me acostumar a usar a prótese, Josy ficou ali comigo.
Às vezes vinha trocar as ataduras da cicatriz, outras vezes vinha só para conversar, aliviar a solidão
Acho que ela era também uma pessoa muito solitária.
Por isso nos entendíamos bem.
Nos sentiamos bem no silêncio.
Era confortável ficar ao lado dela.

Recebi alta.
Josy veio se despedir de mim.
Sempre achei que enfermeiros, médicos e pacientes tivessem aquele lance de não se envolverem emocionalmente um com o outro, mas acho que no nosso caso foi meio impossível.
Ela veio me dar tchau.
Me abraçou, desejou tudo de bom e saiu.. ou tentou sair.
Em algum momento de loucura minha, eu agarrei sua mão e a puxei pra perto.
Nunca soube escolher palavras bonitas.
Nunca soube falar coisas bonitas.
Apenas disse que eu adorava a cor dos seus olhos, o quão bonito era seu sorriso e o quão bem ela tinha me feito nesses 15 dias de internação hospitalar.
E depois soltei sua mão.
E ela me beijou.

Meu primeiro beijo.
Beijo de verdade.
Daqueles que fazem o ato valer a pena.
Eu já havia gasto um bom dinheiro com mulheres da vida.
Casas vermelhas.
Bórdeis em becos escuros.
Coisa suja.
Porca.
Mas nada se comparou à esse beijo com josy.

Ela me beijou.
E saiu.
Virou as costas e saiu.
A porta se fechou e eu fiquei ali.
Com minha prótese e meu silêncio.
No meio do meu silêncio e no fechar daquela porta, Josy some da minha vida.

E no meu silêncio, eu termino essa página.
Uma página com um pouco de romance creio eu.
No meio dessa história.

Calma caro caríssmo.
A história vai começar a se desenrolar.
Aos poucos.
Eu precisava comentar essa passagem.
Ela será importante, eu acho.
Pra mim foi importante.

domingo, 11 de setembro de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 6

Ola amigo leitor.
Sei que você está aí.
O meu toque de suspense deu certo, assim espero, e você está aqui caçando essa continuação barata.
Vamos continuar?

Estamos no ano de 1962.
Minha vida não mudou muito de lá pra cá.
As mortes ficaram menos frequentes.
As pessoas aprenderam que não podem atravessar o Muro.
É assim que se doutrina cães.
Na base da porrada.

Em casa, as coisas mudaram um pouco.
Quase não via mais minha mãe.
Não que eu a visse muito antes, mas agora era diferente.
Ela chega em casa no horário normal do trabalho.
07:00 p.m
Toma um banho.
Se arruma.
Pega uma bolsa que fica trancada dentro do seu armário.
E sai de casa.
E só volta de madrugada.
Nisso, eu já estou mais bebado que é capaz de eu tentar dançar tango com o vento.

Maio de 1962.
Um dia qualquer.
De uma semana qualquer.
Eu só lembro do mês.
Minha mãe saiu pra trabalhar e eu também.
Desde que comecei a trabalhar no mercado, eu consegui uma promoção.
Saí de caixa para gerente dos caras do caixa.
Nada de muito diferente.

Foi um dia normal.
Um cliente chato aqui.
Uma briga com um dos operadores de caixa ali.
Normal.
Quando chego em casa, ouço o barulho.
Talvez, aquele barulho que mudaria minha vida.
O toque de um telefone.

Estranho.
Quase ninguém liga pra cá.
Eu não tenho amigos.
Minha mãe também não.
Uma vez ou outra alguma tia liga pra cá.
Pra saber se pelo menos estamos vivos.

-Alo? - Interjeição. Uma forma de saudação. A quem? Eu não sei.
-Rudloff? Terry Rudloff? - uma voz metálica, uns barulhos de fundo.
-Sim, sou eu. - nunca havia recebido uma ligação pra mim.
-Aqui é do Hospital Público. Acabamos de receber sua mãe aqui com um traumatisco craniano. Pegamos ela tentando atravessar o Muro de Berlim para a Alemanha Ocidental. Ela e mais 2 fugitivos.
Seu tio Peter, foi baleado tentando ajudar a sua mãe a atravessar pro lado da Alemanha Ocidental. Sua mãe se desequilibrou com o susto do tiro e caiu.
Ela está hospitalizada, mas estável. Assim que receber alta, será encaminhada para prisão e aguardará julgamento. - disse aquela voz metálica, tudo de uma só vez.

Gelo.
Frio.
Congelado.
Minha mãe saiu.
Saiu pra sumir.
E me deixar.
Meu tio morreu.
Eu nem sabia que tinha um tio.
Minha mãe será presa.
Provavelmente condenada.
Nunca vi ninguém sair impune por tentar atravessar o Muro.

-Terry? Você está aí? Terry? Tutututu


Ouço a voz metálica de longe, falando comigo e depois desligando.
Coloco o telefone no gancho e apago.
Acordo, o céu já está escuro e o telefone não para de tocar.
Eu não quero atende-lo, tiro ele do gancho e escuto.

A voz metálica me diz que minha mãe teve alta.
Está na Prisão Alemã Estadual.
Aguardando julgamento.
Mas já me avisam que será difícil ela sair de lá.
Eu agradeci o contato.
Desejei à voz metálica uma boa noite.
E desliguei.
De novo.

Levantei.
Tomei um banho.
E saí.
A rua agora era minha família.
E a bebida meus irmãos.
Aqueles que eu perdi em guerra.

Aqui começa a história propriamente dita.
Vocês conhecerão agora, meu caminho até o meu futuro.
Até onde estou hoje.

A partir de agora, vocês comecarão a entender, como eu vim parar na frente dessa máquina.
Escrevendo sobre esse passado.

Até breve, meu caro caríssimo.

Farol Vermelho e Amarelo

Uma vez eu ouvi dizer que todo porto precisa de um farol e que todo Náufrago se move em direção à luz do farol.
Um farol vermelho eu vejo.
Com seu topo amarelo e sempre me chamando.
Me guiando.
Me cuidando.

Depois de tanto tempo como aquele Náufrago, navegando em tantos mares alheios, eu encontrei meu porto com meu farol.
E estou nele há 7 meses.
Montei uma casa aqui.
Montei um lar aqui.
Montarei uma família aqui.
Montarei uma história aqui.

São 7 meses de lutas e glórias.
Brigas e sorrisos.
Conversas e abraços.
Desejos e objetivos.

Um lema?
Estamos juntos nessa.
Sempre.
Meu farol.
Meu porto.

Caminharemos lado a lado.
Viveremos lado a lado.
Às vezes, você o farol e eu o naufrago, às vezes, você a naufraga e eu o farol

Minha criança, minha jóia.
Minha vida, meu amor.

Obrigado pelos 7 meses.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 5

Eu sou um cara esquecido.
Entendam.
Eu sempre me perco em devaneios enquanto eu estou sentado pensado.
Por isso eu escrevo estas linhas tortas.
Para me lembrar.
Lembrar do meu passado.
Pra poder saber o que acontece em meu presente.
E tentar descobrir o que acontecerá no meu futuro.

Bom, já que eu acabei de jogar meus pensamentos lá longe, vamos voltar à minha história.
Eu continuo sentado aqui na frente dessa máquina de escrever antiga, relembrando coisas que aconteceram.
Onde eu parei?
Pois bem, lembrei.
E como pude esquecer?

Mark foi embora.
Me deixando aqui.
Terminei o Ensino Médio apenas com notas regulares.
Ainda não havia beijado.
E não me importava com isso.

Becas, alguns sorrisos amarelos.
Flashs.
Canudos.
"Pegue o canudo e enfie em seu cú querido diretor"
Foi um pensamento que me veio a mente, mas eu não verbalizei.
Covarde demais.
Desci do palco.
E voltei pra casa.
A volta para casa parecia demorar uma eternidade.
Eu acho que nunca manquei tanto em minha vida.
Mais um período havia acabado.

-Mãe? - pergunto eu assim que entro em casa.
-Oi Rudloff, parabéns. - disse ela sem nem virar pra mim.
-Terminei o colégio. - minha voz sai meio insegura, eu ainda estou plantado na porta.
-E daí? - responde ela mexendo em algo nas gavetas da cozinha.
-E agora? O que eu faço? - "Se mexa criatura! Vá até ela! Abrace-a! Faça qualquer coisa seu aleijado!" essa é a minha mente gritando comigo, mas eu não a obedeço.
-Agora você faz o que você quiser meu filho. A vida agora é tua. Se vira. - ela diz, saindo de casa e indo trabalhar.

E por lá eu fico.
Plantado.
Esperando o dia acabar.
Vejo o Sol se por pela janela da cozinha.

Isso tudo foi em 1958.
Nossas vidas iriam mudar em alguns anos.
Minha mãe começou a se agitar mais.
Ela saia no meio da noite, mas eu não me importava.
Não nos falávamos mais.
Eu consegui um emprego.
Um emprego medíocre, para alguém medíocre.
Caixa de mercado.
Me dava uns trocados para a bebida.
Eu havia adquirido o gosto por elas.
Havia conhecido uns caras também.
Amigos de bar.

Os anos passam.
Minha vida não passa.
Não muda.
'59 veio e foi embora.

Anos 60.
Começamos a ouvir algo sobre Divisão Alemã.
Não que nossas vidas já não fossem divididas.
A Alemanha que eu conheci quando eu vim ao mundo, há muito já havia sumido.
Oriental e Ocidental.
Uma ainda controlada por Russos, outra controlada pelos Americanos.
Mas ainda havia algumas brigas.
Ouviamos nos rádios, liamos nos jornais, sobre brigas.

'61.
Explosão na Alemanha.
Criam o Muro de Berlim.
Alemanha fisicamente dividida.
Um muro no meio do nosso país.
Dividindo sociedades, culturas e, o mais importante, famílias.
Lemos em jornais.
Tios, primos, filhos tentando atravessar a fronteira e morrendo.
Os soldados que ficam de patrulha não dão trégua.
Mark deve estar por lá.
Vestido de verde.
Caçando familiares.
Brincando de tiro ao alvo.

É meu caro caríssimo.
Esses foram meus anos.
Calma.
Ainda contarei mais.
Você sabe que eu gosto de continuações.
Gosto de contar as coisas em partes.
Posso deixar algo no ar?
Você me permite uma pitada de suspense?
Então tá bom.
Na próxima página desse conto de tortas linhas, você lerá algo.
Algo sobre uma voz metálica.
E suspirará.
Tchau caro caríssimo.
Nós ainda iremos nos falar.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 4

Onde paramos?
É mesmo. Cursando Ensino médio.
Isso parece descrição de Currículo.

Mark ainda andava comigo.
Ou pelo menos me acompanhava na minha mancadas.
Entramos no famigerado 3º ano.
Último ano nessa escola.

Mark ainda estava comigo.
Fiel e companheiro amigo.
Não comentei sobre o segundo ano pois nele, não houve muitas mudanças em minha vida.
Continuei manco.
Continuei com polio.
E continuei sozinho.

A falta de cores e a falta de coisas continuou a mesma.
A mesma apatia.
A mesma falta.
Falta.

Mark andava comigo.
Pelo pátio da escola.
Pelos corredores das salas de aula.
Pelo caminho de casa.

Mark andava comigo.
Sempre.
Até o dia que nos pararam na rua.
Mark foi levado.
Pelos mesmos homens que levaram meu pai.
Os homens de verde.
Tentei correr, mas não havia forças em minhas pernas.
Voltei para casa.
E esperei.
Esperei.

A dor da espera era absurda.
Mas Mark voltou.
Vestindo o verder.Aquele verde musgo que eu vi levando meu pai embora.
Mas sem a faixa.
O Nazismo havia acabado, mas a Alemanha precisava de soldados.
E Mark era um cara marcado.
Igual a mim.
Filho de ex-combatente.
Se eu não tivesse polio e não mancasse, pode ser que eles tivesse me escolhido também.
Mas escolheram Mark.
E ele andou.

Andou na rua.
Andou pro carro.
Andou para longe.

Essa foi uma das coisas mais marcantes no meu ensino médio.
Mark.
Meu único amigo, ter sumido, uniformizado, com cara de estátua e deixando a mãe e seu amigo para trás.
Assim como seu pai fez.
Como o meu fez.
Como muitos pais fizeram na Grande Guerra.

Você pergunta pela minha mãe.
Ela continuou na mesma.
E como nessa parte eu falo sobre continuações, deixa eu explicar a continuação da minha mãe.

Minha mãe continuou, ou melhor, tentando viver.
Não saia de casa, a não ser que fosse pra ir trabalhar.
Não saia da cama, a não ser que fosse pra ir trabalhar.
Não comia, a não que fosse pra poder parar em pé. Adivinha para que? Pra poder ir trabalhar.
Minha mãe entrou num círculo vicioso.
O círculo vicioso do coração, ou da falta dele.
Sem o coração, minha mãe entrou no automático.
Acordar, comer, trabalhar, comer, dormir.
Acordar, comer, trabalhar, comer, dormir.

E eu?
Eu só fui crescendo e tantando andar.
Andar para longe.
Para longe daquele bairro.
Para longe daquela cidade.
Para longe dos homens de verde e da sombra vermelha.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Você colhe apenas aquilo que você planta

Você colhe apenas aquilo que você planta.
Eu ouvi isso esses dias e descobri que essa é a mais pura verdade.

A gente colhe frutos de coisas que plantamos no passado.
Seguindo a Imperatriz e o Eremita, eu deixo meu passado pra trás, vivendo meu presente.
Do meu futuro invertido, eu deixo pra descobrir depois.
Vivendo o agora, transcedentalmente, me sinto feliz e completo.

Você colhe apenas aquilo que você planta.

Plantando agora pra colher os frutos depois.
Os frutos que colhi agora, só peguei os mais bonitos.
Aqueles velhos frutos estragados, pretos e machucados, eu deixei pra trás.
Eu não preciso deles.

Você colhe apenas aquilo que você planta.
Seja bom, ou seja ruim.
Você apenas escolhe o que você usará para a sua salada mista, que você pode chamar de vida.
Vida esta, que hoje, está se encaminhando pra sua fase mais ordenada, mais correta, com o melhor dos objetivos.
Ter você ao meu lado.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Só nós sabemos.

Como você disse, ouça a música enquanto lê.
http://letras.terra.com.br/charlie-brown-jr/1554240/

Eu tava ouvindo essa música com meu irmão agora a pouco e a sua imagem, o seu rosto me veio à mente.

Sabe, desde que eu te conheci, eu mudei.
Todos sabemos disso.
Eu acho que eu acalmei.
Eu sinto você.
Sinto quando você segura na minha mão.
Quando a gente se abraça.
Quando você sorri pra mim.

Eu não quero mais dias como os de quarta de manhã.
Quero mais dias como quarta de noite.
Nós dois.
Juntos.
Como se não existisse mais nada.
Só nós.
E nosso tempo juntos.

"Agora eu sei exatamente o que fazer
Vou recomeçar, poder contar com você"

Eu já te disse, eu sei que eu posso contar com você.
Como já dissemos um pro outro.
Amiga, namorada, amor pra uma vida.
Te amo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

3 pras 6

3 pras 6.
O que é isso?
É o quanto falta.
Falta?
É.
Falta você aqui do meu lado hoje.
Falta você aqui por perto agora.

3 pras 6.
Isso que você explicou não faz sentido.
O que é isso?
É o quantidade de coisas que podemos fazer.
A quantidade de tempo que ainda teremos pela frente.
6,12,18,24....
Sempre 3 pras 6.

Inferno!
Você ainda não explicou o que é esse maldito 3 pras 6!
Calma, não se exalte.
É apenas um jeito de falar que faltam apenas 3 dias pra completar 6 meses.
6 meses ao seu lado.
Obrigado por me fazer feliz.

"Me faz viver, me faz pulsar, me dá razão pra continuar..."
Razão pra continuar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Uma Sessão de Terapia no Buraco

Pois é.
Olha eu descendo aqui, nesse buraco úmido de novo.
Só pra poder ter uma conversa com dois seres que fazem parte de mim.

-HYDE! JECKYLL! APAREÇAM! - Grito, pois não ouço eles, não os vejo. Faz tempo que não apareço por aqui, meus olhos estavam desacostumados com a escuridão, meus ouvidos, já habituados com o constante caos, se esqueceram como é ouvir o som do próprio silêncio.

-Ora, ora, ora. Olha quem aparece por aqui, querido Jeckyll. - ouço essa voz debochada, rouca, de Hyde. Sei que ele está com um sorriso torto no canto da boca.
-Olha se não é a velha Voz. O velho machucado abriu é? - disse Jeckyll já se aproximando, procurando sinais de cortes recentes.
-Pois é senhores. Vim aqui, procurar vocês por causa de velhas cicatrizes. Preciso de uma direção. - disse, já me aconchegando nos braços abertos de Hyde.

E é aqui que eu me encontro.
Sentado, nesse chão sujo, abraçado à sombra que me segurava aqui, apenas por que eu precisava de algo pra me segurar agora. Juntar meus próprios pedaços.
Vim aqui, basicamente para uma sessão de Terapia.
Preciso de conselhos, preciso sangrar e sei que aqui, eu posso fazer isso.
Sangrar.

Se cuida...Te amo...
Não lembro onde foi que eu ouvi ou li isso...
Mas eu achei bonito.
E triste...
A frase toda, na verdade, fala +/- assim:
É horrível quando você fala pra alguém: Se cuida, quando na verdade, você queria dizer, Te amo.
É sério, achei bonito.

Hyde fala que eu estou encurralado. Na verdade, o coelho albino me falou isso e Hyde concorda.
Jeckyll cutuca nas marcas. Ele quer saber se elas vão sangrar se forem cutucadas.
Ele sabe que eu vou tentar cutucar, ele só quer saber se os pontos estarão fortes para não voltarem a sangrar.

É, essa foi a sessão meu caro caríssimo.
Hora de voltar pra superfície.
De voltar pro topo.
Tampar esse buraco.
Mas não o trancarei dessa vez.
Pode ser que eu precise dele de novo, mais cedo do que eu esperava.

Mais uma história nessa estrada de tijolos sujos

E mais uma vez eu estou aqui.
No começo dessa estrada de tijolos.
Sujos e gastos.

Lá na frente eu vejo meu amigo.
O espantalho.
Rindo, se divertindo e se esquecendo.
Pra que se preocupar? - Ele sempre me diz.
Mas eu não consigo.
Racional demais.
Duro demais.
Pensando demais.

Corro sempre por aqui.
Essa floresta em que me acharam enquanto eu enferrujava.
Mas é sempre correndo.
Justamente pelo medo de ficar parado e enferrujando de novo.
Mas a correria às vezes me cansa.
E eu paro.
Paro e olho.
Olho e não vejo nada de muito bonito.
E é por isso que eu corro.
Sempre correndo.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Respire o Ar

"Respire o ar, respire o ar
Respirar
Respire o ar, respire o ar
Respirar
Vamos rumo ao horizonte vivendo a paz..."

Eu preciso parar às vezes.
Parar pra respirar.
Pra sentir.
Pra ouvir.

Eu vivo falando: "vá viver sua vida! levanta a cabeça e siga"
Mas eu não to vivendo.
Não plenamente como deveria ser.
Eu estou correndo nela.
Sem apreciar as belas paisagens que a vida me mostra.

Hoje me falaram, na verdade eu li, sobre borboletas no estômago.
Eu ainda as sinto, de verdade, a cada vez que eu vejo um sorriso sincero em seu rosto.
A cada vez que a gente conversa no meu carro.
A cada vez que eu te abraço.
Mas nos acomodamos.
A magia do conto está acabando.
Precisamos faze-la voltar pra tudo isso aqui.
A gente precisa voltar a brilhar, como brilhávamos lá no começo.
Cada um saindo de seu fosso.
E clareando o caminho com a nossa passagem.

Eu preciso disso.
De você.
Aqui comigo.
E eu vou lutar por isso.
De novo, de novo e de novo.
Quantas vezes for necessário.
Só pra te ter ao meu lado.
Sempre.
Pois é você.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Corra Coelho Branco.

Eu só queria poder gritar.
Gritar contra tudo.
Contra todos.
Gritar comigo mesmo pra ver se eu ouço meus próprios erros.
Pra ver se eu acordo.

Um grito.
Só pra me libertar.
Me livrar.
Saber que eu posso mais e estou aqui, preso.
Sem poder gritar.
Nesse escritório em que me sento, todos os dias, na mesma cadeira, fazendo as mesmas coisas, vivendo a mesma rotina.
Rotina essa que eu transporto pro que me é mais importante.
Você.

Quando crianças, dizem à você que devemos crescer e nos enfiar num escritório.
Você vai, trabalha 8, 9, 10 horas por dia.
Cria uma rotina.
Automatiza seu mundo.
E quando você entra num relacionamento, essa automatização, toma conta dele também após um tempo.
Pelo menos, eu me sinto assim.
Automatizado.
Robótico.

De um conto, virou um ponto
Um ponto metálico.
Que sempre marca o fim de uma frase, uma regra.
Algo automático.
Entende?
Não?
Nem eu.
Não consigo entender como ficou assim.
Como eu deixei ficar assim.

Segurar sua mão, ver seu sorriso, mexer em seu cabelo.
São coisas que sempre foram e sempre serão momentos nossos que eu irei amar.

Como eu já disse.
Correndo, pulando, atropelando.
Tudo, todos.
Corra coelho branco, mas não se esqueça de quem te segue de tão perto.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O sorriso que foi embora

Olha espelho.
Agora você revê essas marcas de lágrimas escorrerem não é mesmo?
Você revê as cicatrizes se abrirem de novo.
E você sabe o motivo.
Querer e Precisar.

Você a quer, mas evita o precisar.
Mas você acabou precisando e isso te assusta.
Porque você, e só você, sabe o quanto é doloroso pegar de volta algo que você já deu.
Porque você, e só você, sabe o quanto é difícil reconstruir algo que estava destroçado.

Não, eu não irei dormir hoje.
Não com a imagem de você indo embora.
Seu sorriso virando as costas pra mim e me deixando aqui.
Numa casa vazia, apenas com uma mala de roupas sujas.

E aquele pôr do sol?
Agora se torna apenas um momento vazio.
Sem os seus abraços de braços vermelhos.
Sem o cabelo brilhando ao sol.
Apenas um momento que tinha tudo pra ser bonito, mas é apenas vazio.
Graças e exclusivamente à mim.


Praticando duas artes distintas e contrárias.
Sem nunca ter dominado nenhuma das duas.
A arte do apego e a arte do desapego.


Não sei amar e tentar ser livre.
Não sei amar e te deixar livre.
Não sei amar e não precisar.
Não sei amar e não entregar meu mundo.
E isso me assusta.
Por todas as vezes que o Homem de Lata teve seu coração mutilado e eu tive que reconstruí-lo.
Sim, já superamos tudo isso.
Meu coração é seu.
Ele é todo seu.
O problema é o meu tempo.


Esse corre.
Voa.
E eu quero fazer tudo.
E me atropelo, te atropelo, atropelo nosso tempo.
Sempre correndo.
Como o coelho branco dos contos de fadas.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Falta Sangue Nesta Faca

E há tantos motivos pra dizer que está tudo bem.
Mas, geralmente, não está.

Mais sangue.
E dessa vez não é o meu.
É esse sangue de outrem manchando o chão, manchando, as roupas, manchando a cama.
Vermelho, sempre vermelho.
E ele escorre vermelho.
E escorre pela ferida.
Como a ferida foi aberta?
Eu estou segurando a faca.
Eu ferí.
Eu deixarei esta marca em você.
Me desculpa.

Vermelho, sempre vermelho.
Cinza, sempre cinza.
É a cor dessa faca.
Faca que sempre utilizo na hora de criar marcas.
Em mim, em você, em nós.
Palavras são cinzas?
Devem ser.

E apesar de ter sido tolice desistir de tudo aquilo, hoje, eu não me arrependo.
Tenho você, tinha você, comigo sempre.
Esse sorriso que me faz rir só de vê-lo.
As lágrimas fáceis e o sono com carinho.

Desinteresse.
Não é desinteresse.
É falta de palavras.
De expressão.

Falta de saber ser e agir.
Falta.
Falta sangue nesta faca. Sim, o meu próprio.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Sujo e o Cinza

Enjaulado.
Engaiolado.
Sujo.
Só.

Olho para as grades na minha frente.
A platéia me olha.
Eles observam um animal.
Rodando.
Andando em circulos.
Nesse espaço pequeno em que o trancaram.

O animal olha a platéia com o sentimento contrário ao qual eles o olham.
A platéia o vê como um animal imponente, digno de uma escultura.
O animal olha a platéia como seres dignos de repulsa.
Com suas cores cinzas, com suas mentes cinzas, com sua vontade cinza.

Olho de novo a platéia.
Olho mais atentamente as grades.
Elas entram em foco.
De repente elas não estão mais separadas.
Estão juntas.
Caço a platéia cinza.
Não vejo mais as pessoas.
Vejo uma única pessoa.
Vejo a mim, preso aqui dentro.
Tentando me conhecer.
Tentando ver onde eu me perdi.

Eu estou sozinho aqui, nessa jaula.
Nesse quarto.
Onde sempre acabo enfiado.
Olhando nesse espelho que me reflete.

Reflete o cinza.
Cinza esse que não se dirige à cor do seu estojo de canetinha, mas se dirige à cor que está minha alma.
Meu corpo sem vida.

"Do pó viestes ao pó retornarás"

Cinza.
Sempre cinza.
Sempre cor de monotonia.
A cor da falta.
Falta de cor.
Nesse quarto sem papel de parede.
Sem vida.
Sem você.
Só o espelho e seu reflexo.
O Sujo e o Cinza.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Mesmos combustíveis

Outra garrafa de Stock.
Eu gosto disso.
Eu gosto de brincar com ela e vê-la pegando fogo.
Pelo menos ela pega fogo.
Há muito tempo tem sido tudo muito gelado dentro de mim.

Olho para o lado dessa cama.
Cama de casal.
Vazia.
Sempre vazia.
Vejo as garrafas no chão.
Sempre as mesmas garrafas.
Sempre os mesmos combustíveis.

Levanto daqui.
Meio grogue, meio tonto.
Passo direto pelo banheiro.
Não quero me ver no espelho.
Eles sempre me mostram o que eu não quero ver.
O poder da decomposição humana.
Não da carne.
Não cheguei ainda nesse estado.
Mas a decomposição do ser.
Do que sou.
Do que fui.

Desço as escadas.
Mesma roupa de ontem, mas por aqui ninguém parece notar.
O papel de parede manchado, rasgado, sujo e fedendo a mofo.
Acho que me acostumei à isso.

Atravesso os batentes da porta.
Tento me localizar.
Estou em algum lugar Luz.
Sei porque eu vim pra ca ontem a noite cantar:
"Se essa rua, se essa rua fosse minha.
Eu pegava, eu pegava todas as pedras.
Pra eu fumar, pra eu fumar, pra eu fumar.
E me acabar nessa merda de pedrinha."


Por sorte ou por azar, não sei dizer, eu não achei, ou não procurei com tanto afinco assim.
Sei que acabei parando nesse hotelzinho.
Com algumas garrafas de Stock e uma de Tequila.
Como disse, os mesmos combustíveis.

Mas eu apenas saio dessa vez.
Só para andar.
E respirar.
O pouco que eu ainda posso.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Coração e Corpo no Homem de Lata

E agora o Homem de Lata ganha um corpo físico.
Ao mesmo tempo que segura um coração que respinga sangue.
Sangue.
Que tantas vezes foi derramado.
Tantas vezes foi envenenado.

Quantas vezes eu não o vi escorrer só pelo seu bel prazer?
É Dorothy, é.
Nada mais de sangue derramado pra você.

O coração que agora pulsa aqui tem outro destino.
Outro som.
Outra pulsação.
Bate em outro ritmo.
Agora ele bate em compasso com outro coração.
Ele não bate mais sozinho.

O Homem de Lata agora está sentado.
Em seu banco de praça.
Não aquela praça escura e fria.
Cheia de más recordações.
Mas sim, uma praça colorida.
Uma praça de primavera, mesmo estando em pleno inverno.
Uma praça que tem um nome diferente gravado.

O Homem de Lata agora tem um corpo físico e um coração.
Nada mais de eco.
Nada mais de sangues vazando por buracos.

E como já foi dito aqui.
Agora ele pulsa.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Um Pesadelo

Abro os olhos.
Me vejo naquele mesmo quarto escuro.
Vazio.
Fedido.
E lotado de garrafas vazias.

Olho os braços.
Aquelas mesmas marcas.
Mesmos cortes.
Mesmas cicatrizes.

Olho no espelho.
Sim, sempre um espelho.
Vejo o reflexo do que já foi algo.
Alguém.

Sinto a dor.
Velha e conhecida dor.
Dor no peito.
Na cabeça.
No coração.

Vejo o vazio do quarto.
Vazio da cama.
Vazio do homem refletido.

Fecho os olhos.
Tento esquecer.
Tento apagar.

Abro os olhos.
Suor escorrendo na testa.
Ufa, foi um pesadelo.

Olho ao redor.
Quarto diferente.
Mais claro.
Mais cheio de vida.

Olho para o lado.
Vejo você deitada.
As costas nuas após uma noite de amor.
Seu cabelo loiro esparramado pelo travesseiro.
Meu travesseiro.

Olho para baixo.
As cicatrizes estão lá ainda.
Mas menos visíveis.
Quase apagadas.

Olho para o espelho.
Vejo o reflexo de algo que está se transformando.
Um Alguém novo.

Sinto algo.
Não é mais a dor.
É algo quente.
Algo que me move.
Para cima.
Sempre para cima.

Num dia, após tantos pesadelos.
Eu encontrei você.
Um sonho em meio ao caos.
O caos que era meu único amigo.
O caos que me acompanhava.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Aquele Eu, O Palhaço

Sorrisos.
Eu me escondo neles.
Escudos coloridos.
Bonitos.
Cheios de dentes.

A cada dia um escudo formado.
A cada dia um escudo que levanto.
Só para ninguém ver o quão ferido está o cavaleiro por trás dos escudos.

Aquele Eu, O Palhaço.

Avenida Brasil.
Um malabarista no farol.
Usando claves de fogo.
Sorrindo.
O malabarista sou eu.
Sorrio na esperança de receber trocados.
Mais por diversão que por outra coisa.
Tento dar um sorriso para uma criança sentada no banco do passageiro no carro da frente,
Ela sorri.
Um sorriso diferente do meu.
Um sorriso limpo.
Sem esforço.
Eu ainda forço um sorriso.
1 hora fazendo isso e meu rosto já dói.

Aquele Eu, O Palhaço.

Cansado de sorrir pra demonstrar algo que não sinto.

"Coloque um sorriso no seu rosto" - disse ele.

Eu colocarei um sorriso sim.
Não preciso que vejam o cavaleiro perdido e feriado por trás disso tudo.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Sábados e uma vida de fim de semana

Faz algum tempo que eu não escrevo pra você.
Sim, pra você mesma.
Quase 4 meses não é mesmo?
Pouco tempo?
Pode ser.
O que já passamos juntos?
Muita coisa não é?
É, pois é.

Passou sábado.
Passaram-se vários sábados.
Sábados.
Dias que marcaram sempre para mim.
Pois foram neles que eu me perdi em você.
Me perdi nas risadas.
Me perdi nos carinhos.
Me perdi no seu olhar.
Me perdi no seu sorriso.

"Não foi tudo errado, de tanto correr sem rumo
me encontrei perdido com você."


Sábados.
Esse último sábado que passou foi um tipo de sábado que eu sentia falta.
Falta de poder dormir com você.
Falta de poder acordar com você.
Acordar, ir tomar café na feira.
Vivermos nossas vidas de fim de semana, como se não existisse mais nada.

Você é assim.
Aquela que me faz sorrir.
A cada sábado.
A cada domingo.
A cada dia.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dois shows. Mesmo palco. Uma sensação nova.

E de novo nessa rua.
Essa rua que me traz memórias.
Memórias de um passado estranho.
Pontilhado e marcado por vômitos, lágrimas e risadas.
Marcado por vezes e mais vezes tentando sair de um lugar que eu mesmo me enfiei.

Vejo os amigos.
Alguns poucos admito.
Mas o suficiente pra me fazer rir.

Entramos.
É, de novo nesse lugar.
Escuro, cheio de gente.
Paredes suam, as pessoas conversam.

O show começa.
Discos, músicas, vozes que cantam a minha vida.
E eu grito.
Berro.
Pulo.
Me machuco.
E sorrio.

"Abre a roda, VAI, VAI, VAI"
Esse é o grito que sai de minha boca enquanto empurro a massa de gente pra trás.
Começa a pancadaria.
A sensação de liberdade.
A sensação de cantar toda a sua vida.
A sensação de poder bater em sua vida.
É assim que eu me sinto.

No fim do show eu a encontro.
Uma noite juntos.
Tudo o que eu precisava e esperava há um bom tempo.
Dormir e acordar ao seu lado.
Foi o que completou a primeira noite.

Segunda noite.
Essa sim eu sabia que seria mais pesada.
Porque, enquanto eu continuasse Trabalhando nessa Vitória, eu sabia que o Veneno escorreria de mim.
Mas Caulfield às vezes gosta de correr e se enfiar em meio aos Pregos enquanto foge das Cruzes em busca de Moedas.
Apenas o troco.
Eu teria que passar por tudo isso.
Teria que sentir o Vampiro me puxando.
Ver o quanto eu aguentava disso tudo.
Ver o quanto desse sangue vermelho que escorre pelas minhas veias, ainda estava dilatado com veneno.

"O sangue negro feito petróleo da boca escorre e
me deixa mais forte."


Veio o show.
Na mesma rua, no mesmo local, com os mesmos sentimentos de luta dentro de mim gritando.
E dessa vez foi diferente.
Sem lágrimas meu caro caríssimo.

sábado, 28 de maio de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 3

Fundamental passou voando.
Mais ou menos lá na 7ª, 8ª série eu consegui começar a me enturmar.
Acho que os velhos preceitos, aqueles em que eu achava que tinha que me excluir, morreram.
Não sei bem ao certo.

Sei que na época, eles brincavam de algo que eu não entendia.
Verdade ou Castigo.
Algo assim.
Eu sabia por cima.
Mas era uma brincadeira para convidados.
Você tinha que ser convidado por alguém da turma.
Acho que esse foi um dos motivos para eu ter tentado me enturmar.

Consegui me enturmar após alguns testes e vandalismo desnecessário,  finalmente pude participar da roda.
Fui aos encontros, às festas e tudo o mais que eles marcavam.
Me convidaram pra jogar o tal jogo.
Depois de alguns minutos sentado na mesa, cheguei à conclusão de que, aquele jogo, não passava de um modo fácil de beijar sem compromisso.
Fútil.
Roda garrafa.
Minha vez.
Verdade ou Castigo?
Castigo diz ela.
Teu castigo, é não ter castigo. Não vou obrigar você a beijar ninguém. - disse enquanto me levantava da cadeira e ia em direção à porta.

Nunca mais fui chamado pra esse tipo de brincadeira.
Acho que eu violei algum tipo de regra social.
Algum tipo de regra em que eu tinha que fazer a menina beijar o moleque torto, de óculos, sentado à minha direita.

Aos poucos fui me afastando da turma de novo.
Eles não faziam questão da minha presença, nem eu da presença deles.
Olha lá, o Rudloff sozinho de novo.
É, acho que era isso que as pessoas pensavam de mim.
Ou não.

Fundamental acabou.
Obrigado.
Todo mundo com as becas.
Fingindo ser formando.
Ótimo, lindo.
Peguei o canudo e fui embora.
Dando vivas que nunca mais veria aquelas pessoas.

Ok.
Não foi bem assim,  com todo esse alívio que eu saí do fundamental.
Deixei sim alguns e poucos "amigos".
Não que fosse sentir muita falta, mas eles estavam ali pra conversar quando eu queria.

Pois bem.
Terminei a escola.
Cheguei pra minha mãe e perguntei:
-Mãe, terminei a escola e agora?
-Agora você começa tudo de novo - disse ela enquanto terminava de se arrumar pra ir ao trabalho.

Ela nunca mais se casou.
Nunca mais amou novamente.
Ela não tinha tempo pra isso.
Nem vontade.

Fui pro Ensino Médio.
Outra escola.
Outras pessoas.
Mesma reclusão social?
Não sei, talvez sim, talvez não.

1º colegial.
Tudo novo.
Matérias novas, professoras novas, tudo novo.
Ali, eu vi nos olhos das pessoas, as mesmas dores que eu enxergava nos meus quando me olhava no espelho.
Pessoas que tinham provado a dor da perda.
A dor da derrota.
A dor do crescimento.
Vi neles, as mesmas cores, ou falta delas, que eu via em mim, em minha mãe e em minha própria casa.
O cinza.
O cinza da indiferença.

Pois bem.
Fase nova.
Começo a estudar.
As pessoas.
Eu tinha me esquecido das pessoas.
Na verdade, eu nunca aprendi conviver com pessoas.
Mas, ali, naquela sala, as pessoas eram esquecidas por todos, então, aprendi a conviver com elas, a me aproximar delas.

"Era uma roda muito engraçada, não tinha riso, não tinha nada.
Ninguém podia contar piadas, pois as pessoas não riam não.
Ninguém podia contar histórias, pois as pessoas não queriam lembrar"

Era assim.
Nós não contávamos as histórias de nossas vidas.
Elas já eram muito trágicas para serem relembradas em rodas de amigos.
Não tinhamos piadas.
Crescemos e nascemos numa era sem senso de humor.
Mas conversávamos.

- Hey Terry, fiquei sabendo do seu último fim de semana. Pelo jeito August não irá mais te infernizar por você ser assim, estranho. - dizia Mark
- Nem fiz nada de mais Mark. Apenas expulsei ele do quintal da minha casa. - respondi enquanto terminava o dever que a professora passava na lousa.
- É, mas pra isso você o pegou pelo colarinho e o tacou lá na calçada. Fiquei sabendo que, você só não continuou a perseguí-lo, pois os vizinhos te seguraram. - ele retrucou, rindo, sabendo que era meio impossível isso.
- Rá! Você só pode estar brincando. Se eu conseguisse correr, já teria corrido desse bairro, desse lugar em que moro. - disse me fechando e pensando.

Mark sabia que era verdade.
Ele também se sentia assim.
Todos nós nos sentíamos assim.

Bom, esqueci de uma coisa.
Vocês podem ter estranhado quando eu falei que seria impossível sair correndo atrás de August.
É, eu falando aqui e esqueci de me descrever.
Regra básica de um texto, descrição e eu aqui esquecendo disso.
Enfim.
Além de tudo o que aconteceu em minha infância, aos 8 anos eu tive poliomelite.
Eu perdi parte dos movimentos das pernas e hoje eu manco.
No começo foi um golpe duro para minha mãe.
Ela não tinha dinheiro para o tratamento e eu fui me adaptando à essa condição.
Como um bom ser-humano claro.
Nós somos os mestres da adaptação.

Mark.
Mark é realmente um amigo.
Ele vai e volta comigo da escola.
Nos entendemos.
Na maioria das vezes claro.

Sem pai, com polio, manco, sem amigos no fundamental, poucos amigos no médio, mãe desinteressada na vida e um caminho estranho na minha frente.
É assim que eu resumo esse começo da minha vida.
Calma.
Eu vou continuar essa história.
Mas em partes claro.
Pra que acabar com o suspense?
As melhores histórias vem em partes.
Assim é a vida.
Em partes.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 2

Eu vi toda a Guerra acabar.
Vi a Alemanha perder.
Vi Hittler cair.
Vi a Rússia acabar com um dos maiores Ditadores que se têm notícia.
Mas vi, também, a Economia alemã subir.
Isso tudo, reflexo de uma Guerra.

Já estava com meus 10 anos.
4ª série.
Os Aliados haviam vencido a guerra.
Hittler morreu.
E fim de papo.

Escola.
4ª série como eu já havia dito.
Professora rígida.
Com um pau na mão e um óculos que caia do nariz.
Gorda, velha e enrrugada.
Marcas de preocupação na testa.
Aula de Geometria talvez?
Não sei.
Nunca prestei muita atenção na escola.

Uma lembrança:

Uma cozinha, pequena.
Branca. O jogo de cadeiras combinando com os armários.
A toalha de mesa com desenhos de frutas.
- Rolf! Você não pode! Seu filho acabou de nascer! - Anne dizia, com lágrimas nos olhos.
- Anne, entenda, não é questão de eu querer, eu tenho que fazer! - dizia meu pai. A abraçando forte.

Meu pai se foi. Com uma pequena mala na mão e uma família nas costas.

Meses depois, um carro negro.
A notícia.
Meu pai estava morto.
Ficou preso em uma das cercas de arame farpado e foi fuzilado para morrer mais rápido.
Fuzil amigo.
O golpe de misericórdia.
Pelo menos não sofreu.

Isso tudo foi o que minha mãe me disse.
Como já foi dito, eu era bem novo na época.
Eu só lembro da toalha com desenhos de frutas.

Volto a mente para minha sala de aula.
A professora gorda e enrrugada já saiu.
Não ouvi nem a sirene tocar.
Levanto da mesa e saio.
Não tenho amigos para compartilhar o lanche.
Não tenho amigos para brincar no intervalo.
Não tenho ninguém.

Vejo as garotas no intervalo.
Elas não me interessam.
De verdade.
Nem elas, nem ninguém.

- Hey Rudloff! Venha cá!

Alguém me chama. Viro apenas por que é um movimento automático.
Ninguém nunca me chama pelo nome.
É sempre por esse sobrenome, que para mim, não vale de nada.
Era o sobrenome do meu pai.
Eu não tive um pai.
A qual nome eu honrarei?
Olho para trás e é aquele bando de garotos e garotas da minha sala.
Me chamam para entrar na roda deles.
Ali, eles parecem felizes, alegres.

Claro.
Eles não passaram o que eu passei.
Eles não perderam o pai com menos de um ano.
Não viram sua mãe se afundar num sofá.
Não tiveram que crescer rapidamente pra poder dar forças para sua mãe.
Sua mãe que tinha que sair de casa pra trabalhar.
Recebia a pensão de viúva de ex-combatente.
Mas isso não ajudava em nada.
Ela tinha uma criança quase recém-nascida e uma casa para cuidar.

Claro, todos tiveram suas perdas.
Mas eu não sei.
Acho que sou um pouco anti-social mesmo.
Vejo as coisas acontecerem de longe.
Maioria dos meus colegas de sala já havia, pelo menos, dado um beijo em alguma garota.
Eu não me importava com isso.
Não me importava com nada.

É.
Agora vocês começarão a entender como eu vim parar aqui.
Nessa mesa com essa máquina de datilografar.
Com essa cara cansada e com essas rugas de estress que marcam meu rosto velho.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 1

Vamos lá, testando.
Bom, agora que eu já vi que essa máquina de escrever antiga está funcionando, vamos à minha história.
"Era um garoto, que como eu, amava os Beattles e os Rolling Stones.."
HAHAH.
Não, brincadeira.

Sentado aqui, nesse velho escritório, passo a lembrar de como foi a minha infância.
Nasci em meados dos anos 40.
É, bem na época em que a 2ª Guerra estourava.

Eu fui criado ao som de sirenes, de bombas estourando.
Acordava com minha mãe me balançando e me carregando no colo para o abrigo mais próximo.
O abrigo era numa casa na nossa rua.
Ela tinha um porão grande.
Fundo o suficiente para abrigar todo mundo em segurança.

Lembro que com 5 anos, essa correria toda já tinha acabado.
Mas bem.
Eu estou aqui contando e nem me apresentei.

Eu sou Rudloff.
Terry Rudloff.
Como já disse, nasci na época da 2ª Guerra Mundial.
Eu vi Hittler recrutando meus irmãos.
Eu vi os homens fardados, com sua braçadeira vermelha patrulhando as ruas.
Eu via minha mãe estendendo a bandeira da Alemanha na janela de nossa casa.

Uma visão:
Vi o céu azul se transformar em cinza.
Vi o céu se enxer de pontos pretos.
Fuligem.
Uma bomba estourou há alguns kilometros do minha casa.
Neve negra.
Ácida.
Coloque a língua ali e a queime inteira.

Isso foi a minha infância.
Esse foi o ambiente no qual eu cresci.
E você ainda me pergunta o por que eu sou assim hoje?

Essa, é só a primeira parte.
Calma.
Você me encontrou aqui não?
Sentado na frente dessa máquina de escrever não é.
Eu vou te contar a minha história.
A se vou.
Ela não é uma história bonita, mas, que história que se preze é bonita?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ciclo Vicioso de Um Coração Vazio.

Olhando nesse espelho em que me reflete, no momento só vejo o vermelho.
O vermelho da raiva.
O vermelho da angústia.
O vermelho da vergonha.

Não vergonha do que fiz.
Mas do que sou.
Raiva pelo o que eu me tornei.
E angústia por saber que eu tinha tudo em minhas mãos e perdi, como se segurasse água entre minhas mãos.

É nesse espelho trincado.
Sujo.
Manchado.
Nesse quarto pequeno e escuro em que me escondo.
É que eu me vejo mais claramente.

Vermelho.
É sempre vermelho.
O sangue que circula pelo meu corpo.
O sangue que escorre pela últimas marcas que fiz em mim mesmo.
Cicatrizes.
Sempre cicatrizes.
Sempre feitas à sangue frio.
Sempre no intuito de me sentr vivo.
Pequenas marcas.
Pequeno cortes.
Superficiais.
Por dentro?
Grandes cortes.
Profundos buracos.
Um grande vazio.

Sem coração?
Sem coração.
Mas então, o que é isso que bate em seu peito agora?
É apenas um músculo morto, com o único objetivo de bombear sangue e oxigênio pelo meu corpo.
Pra me manter vivo.
Vivo.
Manter-me vivo única e exclusivamente para sentir mais dor.
Mais dor, mais vivo.
Mais vivo, mais dor.
Belo ciclo vicioso.

Sem coração?
Sem coração.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Columbine 2

Ódio.
To cheio de ódio.
Ódio por não poder falar o que eu quero.
Não porque eu tenho travas na língua.
Não.
Quem me conhece sabe que eu falo o que eu tenho que falar, quando eu tenho que falar.
A situação aqui é outra.
Eu não posso falar pois magoaria uma pessoa que eu gosto.

É, não é fácil.
Eu não posso cobrar algo, não posso impor algo, sendo que eu detesto cobranças e imposições.

Mas eu tenho uma mensagem.
A se tenho.
E Ores me entende.
Ores já ouviu a mensagem.

Viadinho, se você quer se drogar e dar as pregas, o problema é seu.
O cérebro frito é seu, o cú é seu.
Mas não mexa NUNCA no que é meu.

Eu sei.
Essa mensagem é pesada.
Eu sei.
Mas eu não posso falar, pois eu sei que ele não tem 100% de culpa.
Sei que cada cabeça tem sua sentença.
Mas a mensagem tá dada.

E que venha Columbine.

7.776.000 segundos com você.

Vou confessar uma coisa.
Na primeira vez que eu te vi, eu me encantei por você.
A sua risada, seu sorriso me encantou.
Você sabe que eu adoro sua risada.

Mas eu vou voltar ao dia do nosso primeiro beijo.
Você estava linda.
Um vestido preto lindo.
Um sorriso radiante.
Claro, estávamos comemorando seu aniversário.

Uma garrafa de tequila.
Sempre tequila.
Um beijo.
Rápido, mas o suficiente pra eu saber que eu queria aquilo mais vezes.
Num lugar escuro e que tinha tudo pra ser o mais sombrio da Augusta, eu beijei você.
E eu nunca vi aquele lugar ser mais claro.

Saímos.
E vi você chorar logo depois.
E me deu um aperto no coração.
Ali, eu sabia que faria o que pudesse pra não te ver chorar.
Nem que fosse só como amigo.
Eu ainda não poderia nem imaginar que teríamos o que temos hoje.

Chega sexta e o que eu mais quero é poder correr e te abraçar.
Bem forte.
Saber que ali, naquele momento, o mundo pára pra mim e pra você.
Que ali, naquele momento, você está segura nos meus braços.
Que eu estou seguro com você.

Sabemos que são apenas 3 meses.
90 dias.
2160 horas.
129.600 minutos.
7.776.000 segundos.
E cada um desses 7 milhões de segundos ao seu lado, sabendo que tenho você comigo, me fez bem.
Me faz bem.

"Eu to apaixonado, eu to contando tudo e não to nem ligando pro que vão dizer. Amar não é pecado e se eu estiver errado, que se dane o mundo eu só quero você."

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Saudades.

Saudades.
É o que mais me define nesses tempos.
É tanta saudade que já não cabe mais só em meu peito.
Precisa dos dois peitos pra guardar essa saudade.

Saudade dos sorrisos.
Saudade das conversas.
Dos abraços e dos cheiros.
De ver você vermelha enquanto ri sua risada muda.

É tanta coisa acontecendo e eu queria poder ter você ao meu lado.
Pra te consolar e ser consolado.

Às vezes eu paro e penso em como tudo surgiu de repente.
E depois eu falo que não ligo.
Eu quero mais é viver o agora.
Já deixei o mais difícil para trás.
Bem para trás.

Saudades.
Como disse, é o que resumi tudo o que eu sinto hoje.
Tudo não.
Tinha um sentimento que eu havia esquecido, que eu havia perdido há muito tempo, mas que você ajudou-me a procurar e achar.
Mas essa saudade corrói.
Corrói todo o meu peito.
É, cade você?

"Te ver e não te querer, é improvável é impossível. Te ter e ter que esquecer, insuportável a dor incrível."

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O Monstro, O Anjo e o Réles Mortal

Eu me sinto um foragido.
Um excluído.
Me sinto como se tivesse cometido o pior dos pecados com o melhor dos anjos.
Pois hoje, e por um longo tempo.
Serei privado da compania de tal anjo.

Onde os monstros vivem?
Eu te digo meu caro caríssimo.
Ele vive no quarto ao lado.
Trancando o anjo em seu belo quarto.
E resguardando sua porta.
Com sua vestimenta cara, seu jeito calado de andar e pensando no quão preciosa é a criatura dentro do outro quarto.

Sim, eu sei que essa criatura é preciosa.
Sei o valor dela.
Sei o quanto ela vale pra mim.
Mas parece que isso não importa tanto para o monstro.

O monstro.
Por que se fazer de aço?
Por que se cobrir com uma armadura interiça de ferro?
A vida te deu porradas?
A vida te deu coisas com as quais você não queria ter que lidar?
Pois é meu caro.
O réles mortal aqui também passou pela mesma coisa.
Temos a mesma história meu caro caríssimo.
Mas você não me conhece para falar não é mesmo?

É Seu monstro.
Eu agradeço sim, por você cuidar do meu anjo.
Mas deixe-me vê-lo, nem que seja por algumas horas do dia.
Sem que eu precise fugir de sua humilde moradia.

Apenas um dia no lugar branco com Rex

É, ainda estou aqui amarrado.
Nesse quarto branco com resquícios do vermelho.
Rex ainda está aqui.
Eu já tenho 16 anos.
Já perdi as contas dos dias que estou aqui.
Dos meses.
Dos anos.

Apenas as imagens de mamãe e de Clara me vêem a cabeça.
O vermelho-sangue que escorria delas.
Em todas as vezes que eu brinquei de artista circense.

Rex olha pra mim.
Ele sabe sobre o que estou pensando.
Ele também se lembra.
Ele não se arrepende de ter me ajudado.
Eu?
Eu nunca tive muita noção das minhas atitudes mesmo.
Como eu já disse, Rex sempre foi o mandante.

Huum.
Sirene tocando.
Daqui a pouco eles vêem abrir essas portas de vidro pra me levar pra comer.
E tomar remédio.
Eles falam que não é remédio.
Como se eu não soubesse o que é.
Tomo a mesma coisa há tanto tempo.
E eles falam que é pro Rex sumir.
Eu não quero que ele suma, então, ele não some.
Como eu disse, eles vieram.
Vestidos em seus uniformes brancos.
Calça branca.
Camiseta branca.
Sapato branco.
Cacetete branco.
Eu lembro bem desses cacetetes.
Eu tentava reagir no começo e eles usavam os cacetetes em mim.
Não que doesse muito.
Afinal, como é bem sabido, toda a dor que eu sinto, Rex também sente.
E como ele não gosta de sentir dor.
Ele dava um jeito de parar a dor.
Uma vez, ele me ajudou a segurar um dos seguranças, mas eles sempre estão em mais de 2, geralmente 3, então, eu apanhei até soltar o outro.
Tentamos isso diversas vezes, mas como sempre levávamos a pior, desistimos de lutar contra eles usando a força bruta.

Bom, voltando ao meu horário do lanche e remédios.
Eu já estava comendo.
Uma papa gosmenta, mas que eles falavam que era nutritiva.
Rica em proteínas e blá, blá, blá.
Eu não tinha amigos ali.
Nunca tive.
Rex sempre esteve comigo mesmo.
Aqui, todos eram robôs.
Robôs que tinham rotinas e não andavam direito.
Não andávamos direito pois tínhamos correntes de identificação nos pés.
Era um meio de dificultar alguma tentativa de fuga.
Lembra aquele filme do Nicolas Cage?
Pois é.
Era parecido com aquilo.
A rotina se dava pelo fato de que não havia nada para se fazer.
Os livros, eu já havia devorado.
A vista que eu tenho do parque, já não me entretem mais.
Ou seja, eu saio do meu quarto apenas para comer e tomar os malditos remédios.
E Rex continua sussurrando em meu ouvido.
Pedindo uma reação.
Formulando um jeito de escapar.
Mas está bom aqui.
É tudo branco.
Dá uma paz estranha.
Claro.
Tenho meu ponto vermelho.
Rex nunca me deixará.
Ele é um bom amigo.
Apesar de tudo...

domingo, 24 de abril de 2011

Saltimbancos

"Nós gatos já nascemos pobres.
Porém, ja nascemos livres.
Senhor, senhora e senhorio.
Felino não reconhecerás"

É, está passando Saltimbancos num desses teatros do Centro.
É, eu estou do lado de fora claro.
Nunca conseguiria entrar para ver.
Mas estou ouvindo.
Ouvindo e pensando em quanto a minha vida se pareceu com esse trecho da música.

Eu nunca fui alguém que segui regras.
Eu nunca fui alguém que me ajoelhei perante escrituras manchadas de sangue.


Agora estou aqui.
Não que me importe de vagar sem rumo por essas ruas que conheço tão bem.
Realmente não me importo.
Só me importo de estar em um lugar que Holden nenhum viria me procurar.
Só me importo de nunca ter sido um Dorian para alguém querer me pintar.
Minhas Alices, Bonecas e Emílias. Todas bonecas de pano e trapo.
Elas todas ficaram para trás.

Ouço de novo o refrão.

"Nós gatos já nascemos pobres.
Porém, ja nascemos livres.
Senhor, senhora e senhorio.
Felino não reconhecerás"

Me vejo sempre naquele quarto de espelhos.
Vazio.
Sem um corpo estranho pra poder abraçar.
Na verdade.
É sempre um corpo estranho que eu abraço.
Sempre vários corpos estranhos.
Nunca um único corpo que fica tempo o suficiente pra se torna conhecido.
É disso que faz a minha vida vazia.
A falta de reconhecimento no que fica entre meus braços durante uma noite.

É.
Me assusta tanto não ter ninguém pra abraçar.

domingo, 17 de abril de 2011

O Homem de Lata Preenchido.

Ponha o ouvido no meu peito para ver se está perfeito.
Mas que tum-tum-tum é esse?
É um coração.  O ferreiro voltou e me deu um.
Maravilhoso, que ritmo.
É, é maravilhoso.

É, essa celebração vai realmente marcar.
Sim, vai.
Pelo simples fato de uma pergunta respondida.
Uma pergunta que eu vinha procurando o momento certo para fazer.
Uma pergunta que, mesmo sabendo qual seria a resposta, eu tinha medo de fazê-la.

É assim mesmo.
Uma certa insegurança, mas já foi.
Eu já passei por todos os testes e consegui descobrir que o eco do Homem de Lata já não existe mais aqui.
Uma ferreira, com um sorriso que me conquistou na primeira vez que eu vi.
Um jeito engraçado de viver.
Uma história parecida com a minha.
E sem ligação com o meu passado.

Você será para sempre o meu presente.
Nada de futuro.
Nada de passado.
Eu só quero viver o agora.
Com você.
Sem mais.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Espelhos e seus reflexos malditos

Eu me vejo aqui sentado.
No meio desse quarto de espelhos.
Espelhos no teto.
Espelhos na minha frente.
Espelhos ao meu redor.

Esse sujeito sujo, com a barba mal-feita, olheiras escuras sob os olhos refletido nos espelhos sou eu.
Sou eu refletido em todos os angulos.
E em todos os angulos, eu estou assim.
Acabado.

O cenário é sempre o mesmo.
Eu não consigo sair disso.
É um quarto sujo.
Com a roupa de cama manchada com espermas alheios.
Cheiro de podridão no ar.
É, como sempre, estou no Centro.
Com uma garrafa de bebida na mão, o saquinho de pade na outra, e uma arma imaginária na cabeça.
É sempre assim.
Eu me vejo afundando.
Eu me vejo disparando a arma.
Eu sei que estou quase lá.
Mas nunca tenho coragem.

Me levanto.
Saio do quarto.
Desço as escadas.
O papel de parede está desgastado.
O corrimão está todo quebrado.
É apenas mais um hotel barato.

No Hall de entrada, os mesmos indivíduos de sempre.
Como eu, eles não mudam.
É a prostituta de 20 reais a hora.
É o mendigo que consegue um abrigo pra passar a noite.
Um homem no fim da vida, esquecido por todos e se esquecendo de todos.

É, esse último sou eu.
Parece que tem espelhos no hotel inteiro.
Eu sempre acho um jeito de me ver refletido neles.

Saio porta afora.
Tento respirar fundo, mas os anos fumando me impedem de conseguir uma boa respirada sem tossir.
Olho para frente.
São bento?
15 de Novembro?
Não lembro mais direito onde estou.
Não sei como vim parar aqui na verdade.
Eu sempre ando sem direção, tentando achar um caminho que me leve para longe daqui.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Dois meses

2 meses.
É isso.
São dois meses com você.
Dois meses que passaram tão rápido que eu nem percebi.
Dois meses que você tem me feito esquecer do passado.
Dois meses que você tem me feito viver o presente.
Dois meses que você tem me feito pensar no futuro.

E dizem que, logo após uma tempeste, sempre vem a calmaria e o arco-íris.
É clichê, mas você é meu pote de ouro.
Depois de todo o caminho que eu percorri.
Depois de todos os caminhos em brasa que eu andei por cima com meus pés descalsos.
Eu encontrei você.

Com um sorriso no rosto.
Uma risada tão engraçada quanto a minha.
Um abraço aconchegante.
E um jeito estranho de dizer que gosta de mim.
Foi assim que você foi me conquistando.
Aos poucos.
Como tem que ser.

Já dizia o velho ditado não é mesmo?
A pressa é inimiga da perfeição.
É, estamos sem pressa.
Sem correria.
Só vivendo.
Nossas curtas vidas de fim de semana.
Fins de semana esses que param quando estou com você.
Na verdade, o mundo para, pois o relógio é ingrato e teima em acelerar diminuindo as horas que eu posso passar com você.

É isso.
Isso tudo só pra dizer que sim, eu te amo.
Obrigado pelos dois meses.
Obrigado por ser tudo isso pra mim.
Um caminho plano logo após um caminho de brasas.
Um pote de ouro no fim do arco-íris logo após uma tempestade que eu jurei que não teria fim.
Uma pessoa, como outra qualquer, mas que me faz sorrir a cada mensagem, a cada oi, a cada sorriso.
Obrigado.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Espólios de uma Guerra e uma Cama Parcialmente Vazia.

E mais uma noite sem ela.
Após me despedir, de deixá-la para trás daquele portão automático, me deu uma vontade insana de voltar.
De abraçá-la e ficar com ela até 1 da manhã, como sempre fico.
Mas eu virei as costas e parti.

Claro, parti pra lavar a alma.
Parti para matar saudades.
Parti para limpar meu corpo, deixá-lo pingando suor.
Socar sem remorso qualquer um.
Apenas pelo prazer de sentir meu punho acertando alguém e depois rir disso.
Claro, eu sou acertado também.
Espólios de Guerra.

Mas, ao deitar em meu quarto, após meu corpo relaxar, eu sinto tudo.
Não só as dores.
Mas o vazio.
O vazio que me assola.
Mas dessa vez não é um vazio "ruim".
É só a sensação de falta.
A falta que você faz na minha cama.
Aquele corpo quente, mas que precisa de mim pra realmente não passar frio a noite.
Aquele cabelo loiro que, às vezes, acordo de madrugada só para ficar acariciando.
Só porque eu sei que, nem por decreto, você acordaria.

Hoje eu deito até mais na beira da cama, só pra poder deixar o seu espaço ali.
Aquele cantinho, na parede, que você tanto gosta.
Só pra saber que você tem um espaço reservado na minha cama.

É, eu te amo Bárbara. De verdade. <3

terça-feira, 5 de abril de 2011

O Espelho com Insulfilm

Nas sombras de anos vivendo numa dependência química, eu me vejo me afastando de você.
Nas sombras de anos vivendo numa depêndência física, eu me vejo me afastando de você,
Nos anos em que eu fui o cagado, eu achava que era a melhor das opções, a melhor das escolhas.
No final, eu fui o " é o que tem pra hoje ".
No final, eu não fui uma escolha, eu fui a sobra.

Enquanto me vejo aqui parado, olhando o buraco que diz tudo isso sobre mim, eu consigo ver também, o que se passa atrás de mim.
Fora de tudo isso.
É como se eu estivesse olhando um espelho filmado saca?
Na frente, eu vejo a escuridão.
Mas refletida nela, eu vejo o Clarão que vem em minha direção, me puxando de tudo.
Claro, esse Clarão só veio agora.
Agora que eu me permiti ser realmente puxado.

É, tudo me vem aqui.
Agora.
Sentando nessa cadeira quebrada.
Segurando essa latinha de cerveja quente.
Ouvindo músicas que me façam pensar em um brilho, um brilho que veio sem querer na minha vida.

É, é bem assim.
Eu levanto, deixo as sombras, os medos para trás e vou viver.

"Me faz viver, me faz pulsar, me dá razão pra continuar"

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Querer e Precisar

Querer e Precisar.

O lance é o seguinte.
O Querer é uma coisa simples e, num relacionamento, é muito menos prejudicial do que o precisar e eu vou explicar isso aí.
Por exemplo:
" Eu QUERO você "

Isso, não importa o sentido, seja querer no intuito sexual ou apenas querer a pessoa ao seu lado, é menos nocivo.
Você que é livre.
Mas aí tem o lance da frase possessiva, o que não é legal pelo seguinte motivo. A frase demonstra que a outra pessoa não tem direito de escolha.
Nesse caso o melhor é a frase:
" QUERIA você aqui."
Isso deixa, implicitamente, as mesmas coisa do 'quero', mas ao mesmo tempo dá a impressão que o outro tem a liberdade de escolha.

Bom, agora que o mais simples foi explicado, vamos falar do PRECISO.

Aqui é onde um relacionamento começa a, literalmente, FUDER DE VEZ.
Vou explicar.
Quando você precisa, é porque É UMA NECESSIDADE!
Um exemplo.
Você tá com uma puta caganeira.
Você vai no banheiro e solta até a alma.
Quando você vai pegar o papel... CADÊ?
É isso aí.
Todo o seu mundo está girando em torno do papel.

Voltando ao relacionamento, quando isso acontece, de você depender do outro, aquele que depende é o sempre mais pisado, porque o outro sabe que tem o controle.

E bem.
Foi isso que eu fui.
O cagado precisando do papel.
Fui a Terra girando em torno de um Sol.
É, fui isso sim.

sexta-feira, 25 de março de 2011

É Ores, é.

Eu só queria saber uma coisa.
Só uma.
Por que?

Por que me ligar?
Por que querer saber como eu estou?
Após 6 meses, ou mais até.
É, eu conto.
Eu conto porque cada mês desse, eu senti.
Eu sangrei.
Eu chorei.
Eu morri.
E a cada mês que eu morria, eu tentava juntar forças pra reviver.
E agora que eu juntei todas as forças possíveis, levantei todos os escudos possíveis, você me aparece.
E é impressionante a facilidade que você tem pra me derrubar.
Uma simples palavra.
Um simples Oi.

É, eu tremi.
É, eu gelei.
É, eu não sei se consigo levantar agora.

Eu tento erguer meus escudos.
Eu tento erguer minhas proteções.
Mas, de repente, eu não aguento mais elas.
Não aguento.

De repente, todas as feridas, que estava cicatrizadas, abrem.
Abrem e deixam o sangue escorrer.

Olho para Ores e falo:
Ela falou comigo, meu caro Ores.
A minha estrela.
Eu achei que ela tivesse se apagado.
Ores olha para mim com os olhos brilhando, ele sabe o que eu estou sentindo.
É como se estivesse vendo um fantasma né meu caro Hyde?

É Ores, é.
Vendo, ouvindo, sentindo.

domingo, 20 de março de 2011

Quem conta um conto, aumenta um ponto...

E lá estava eu.
Sentado nesse banco de praça..
Desta praça...
A praça que presenciou cada começo, meio e fim de nossa história....

E lá estava eu.
Acordando sem você em meus braços..
Mais uma vez...

Olho para os lados.
Lógico, mais uma vez aqui no Centro..
Lógicos, é sempre a mesma rua que eu subo e desço...
Sempre com uma bebida na mão....


Paro e penso em tudo o que aconteceu.
Todas as histórias..
Todos os contos...
Todos os pontos aumentados....


Lembro de quando era criança e brincava de telefone sem-fio.
Vinha uma frase..
As vezes um trechinho de uma história, e você tinha que repassar isso...
Quando chegava no final, estava tão distorcido quanto um reflexo num labirinto de espelhos....


E é sempre assim.
Quem conta um conto, aumenta um ponto..
Nunca ouvem ou repassam sua história corretamente...
Sempre tem um ruído que atrapalha na hora de passar informação....


É.
Quem conta um conto, sempre vai aumentar mais de um ponto....

quinta-feira, 17 de março de 2011

4 dias.

E mais uma vez eu abro o olho e me levanto.
Sinto a cama vazia.
Fria.
Só a marca do meu corpo nela.

Todo dia eu acordo lembrando daquela barraca.
Todo dia eu acordo querendo ter você nos meus braços.
Do mesmo jeito que você estava naqueles 4 dias.
Parece que faz tanto tempo.
Mas a saudade daquilo é tão grande.

Só queria que todos os dias fossem como aqueles 4.
Só queria poder acodar todos os dias ao seu lado.
Só isso.

Queria poder ver você acordar e sorrir pra mim.
Acodar de madruga e te beijar.
Fazer carinho em você até dormir.
Até eu dormir.
Eu sempre durmo primeiro quando faço carinho em você.
Isso é engraçado.

Só queria mais dias como aqueles 4.
Só.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Parabéns pra você, nessa data querida. Antecipado claro.

É verdade.
Seu aniversário está chegando.
É agora, dia 18.
Engraçado, que de todas as coisas que aconteceram, eu ainda lembro da sua festa.
Foi legal.
A gente deu risada.

Naquela noite, eu podia te abraçar e te dizer parabéns.
Hoje, não sei se por orgulho ou medo, eu não quero.
Não sei se a palavra correta é orgulho.
Orgulho de não falar com uma pessoa que viveu "comigo" por tanto tempo?
Não, não sou assim.
Diria que é receio.
Sim, receio.
Receio de te ver e voltar a me machucar sabe?
Agora que eu estou realmente bem saca?

Mas é.
Seu aniversário.
Mais um ano na sua vida.
Quase um ano com você fora da minha.
Isso sim é meio assustador.

"No vão das coisas que a gente disse
Não cabe mais sermos somente amigos

E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contra mão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada...
E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro...
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
"

É isso.
Não é que eu queira você de volta.
Já disse isso.
Mas eu acho que sempre vou sentir isso.
É.

No fim, tudo isso era pra dizer:
Parabéns.

''E acabo entrando sem querer na sua vida"

segunda-feira, 14 de março de 2011

Pombas e Hyde.

Cisca, cisca, cisca.
Vai seu rato com asas, mexa sua cabeça e pegue esse salgadinho no chão.

Parado aqui, neste ponto com a segunda latinha de uma cerveja qualquer na mão em plena segunda-feira, vejo certas coisas.
As pombas.
Uma gorda com uma verruga do tamanho de um rato peludo no pescoço.
As pombas.
A sujeira.
As pombas.
E as pessoas que só "olham para frente".
As pombas.
Patético.
Eu não gosto de pombas, então não falarei delas.
Eu gosto de pessoas, mas também não falarei delas.

Hyde: Oras, se você não vai falar nem de um, nem de outro, então por que você os citou?
Voz: Citei porque eu quis começar assim.
Hyde: Então essa porcaria de texto é para que?
Voz:  É para falar sobre o céu Hyde.
Hyde: Sobre o céu? O que o céu tem a ver com esse texto?!
Voz: Ele me reflete Hyde. Meio cinza, meio fechado, mas com um espaço aberto. Com a sombra do Sol batendo nele. Um resquício de claridade.
Hyde: Era sobre isso que você queria falar desde o começo?
Voz: Na verdade, não. Eu ia falar sobre pombas e salgadinho, mas aí eu olhei o céu e me vi nele.
Hyde: Você é um idiota. Estou indo embora.
Voz: Eu sei que sou. Tchau Hyde.

Adeus Ano Velho

Talvez as memórias agora parem.
Talvez agora o peito pare de pular a cada vez que eu vejo alguém parecida com você naquele lugar.
Talvez agora as suas sombras parem de me perseguir.
Talvez.

Quinta-feira foi o último dia que eu fui embora por lá.
Acho que eu ficava meio que esperando te encontrar.
Eu saia da estação e começava a te procurar.
No fim, mais por hábito do que pela sensação de estar perdido que me assolava nos tempos em que eu ia até lá conversar com você.


"Longe do olhar, mas perto do coração, eu vou te guardar no meu passado."


Eu realmente não preciso de você no meu presente, muito menos no meu futuro.
Mas, saber que eu deixei mais uma coisa sua para trás, me assusta.
Não sei porque.
É um susto "bom".
Saber que uma parte da minha vida foi deixada para trás aos poucos.
Pedaço por pedaço.
Lembrança por lembrança.
Aos poucos isso foi acabando.


E isso foi tudo.
E isso é tudo.
Hoje parto para novas histórias, novas lembranças.
Como um capítulo de um livro.
Um capítulo novo, de um livro que ainda está sendo escrito.


Adeus Ano Velho

quinta-feira, 10 de março de 2011

Barraca, Um céu e Febre.

Numa barraca em um lugar qualquer.
Numa noite como outra qualquer.
Deitado ao lado de uma pessoa que poderia ser ''uma qualquer''.
Mas não é.

Quando eu a vi, deitada.
Os cabelos loiros esparramados pelo colchão inflável, veio uma coisa no peito.
Um sentimento estranho sabe?
De não querer perder, saca?
Aí, eu apenas abracei.
Forte.

Levantei.
Eu estava queimando de febre.
Era madrugada.
Saí da barraca e olhei pra trás.
Você agarrou o travesseiro e se enrolou no edredon.

Eu de bermuda e camiseta.
Descalço.
E com febre.
Andei pela grama.
Olhando para o céu.
Pensando em você enquanto vou em direção à cozinha tomar um chocolate quente.
Ver se a febre e a dor no corpo abaixa.

Volto pra barraca.
Me enfio embaixo do endredon.
Você abre o olho.
Me dá um beijo.
Sorri e me abraça.
Apenas.
Volto a dormir.
Com um sorriso no canto da boca  e um certo brilho no olhar.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Conto Sobre Rex

Eu já tive um amigo imaginário sabia?
É, eu estou falando com você que está lendo isso aqui.
Se você está lendo isso...
É porque eu te dei pra ler oras.
Você não achou isso em lugar algum.

Então, voltando à história do amigo imaginário.

Eu devia ter uns 5, 6 anos quando criei o Rex.
Bem.
Hoje, eu só lembro que o Rex era vermelho.
E que me acompanhou até os 12 anos.
Foi quando eu fui internado aqui.

É, Rex foi um bom causador dessa internação.
Ele mandava eu fazer as coisas.
Algumas eram engraçadas.
Outras nem tanto.


Ele era mais engraçado quando eu tinha meus 6, 7 anos.
Ele fazia eu pular do 5 degrau da escada de casa e cair no sofá só pra ver a mamãe pular de susto.
Era engraçado ver a cara dela.
Tudo bem que não foi legal quando a gente foi fazer isso e erramos o sofá.
Quebrei o braço.
A gente sentiu uma dor desgraçada.

Aos 9 anos Rex me desafiou à brincar de artista circense.
Sabe aqueles filmes em que os artistas de circo amarravam suas assistentes numa roda e ficavam atirando facas?
Então.
Rex me desafiou à ser um desses artistas.
Só que eu não tinha um assistente.
Foi aí que eu vi a Clara.
Clara é minha irmã.
Ela tinha 7 anos na época.
Ela sempre fazia o que eu pedia.
Ela me adorava e eu a amava.
Ela perguntou do que eu estava brincando.
Eu falei que eu era um artista circense e que precisava de uma assistente.
Ela falou que queria ser minha assistente.

Antes de continuar a história, quero descrever como era minha irmã.

Somos descendentes de alemão, então, é óbvio que fossemos loiros, correto?
Errado.
A parte alemã é da minha mãe.
Meu pai é descendente de italiano.
Logo, temos o cabelo beem escuro e os olhos bem claros.
É assim que Clara era.
Pequena, na altura da minha cintura mais ou menos.
Cabelo no meio das costas.
Sempre com um sorriso na cara.
Acho que ela também tinha um amigo imaginário.
E assim era minha irmã.

Voltando à minha experiência como artista circense.

Armei tudo, ou quase tudo.
Eu não tinha uma roda que ficasse girando enquanto minha assistente ficava lá presa e eu atirando as facas.
Mas eu amarrei a Clara numa árvore e falei que tava bom.
Rex aprovou.
Peguei 5 facas.
Acho que estava bom.
Clara sorriu pra mim.
Nunca esquecerei daquele sorriso.
Lá se foi a primeira faca.
Passou direto por ela e pela árvore.
Ela continuou com o sorriso, me mostrando coragem e me dando confiança.
A segunda foi.
Passou direto também, mas pegou no braço da Clara, de raspão, mas cortou.
O sorriso dela sumiu e ela começou a se debater pra sair.
Eu quis parar, mas Rex falou pra eu tentar acalmá-la e continuar.
Eu senti uma risada estranha de Rex surgindo dentro de mim, mas fiz o que ele falou.
Assim que eu pedi pra Clara se acalmar e confiar em mim, ela parou.
Ela sempre me ouvia e confiava em mim.
Joguei as outras três facas restantes uma atrás da outra.
Foi aí que aconteceu tudo muito de repente.
A 3ª faca acertou direto no estomago dela e ficou presa lá.
A 4ª atingiu a perna e também ficou lá.
A 5ª passou direto.
Clara estava gritando de dor.
Eu corri e a desamarrei.
Mamãe chegou e viu a cena.
Ela ficou branca.
Pegou a Clara e a levou ao hospital.
Fiquei sem notícia das duas durante o resto do dia.
Ficava olhando o sangue no jardim e brigava com Rex.
Rex falou que a culpa era minha, ninguém mandou eu não ter mira.
Eu concordei com ele.

Quando mamãe voltou, ela me olhou com uma cara que me deu medo.
Clara não havia morrido, disse ela, mas ela não ficaria mais com a gente.
Eu perguntei porque.
Ela disse que a culpa era minha.

Nunca mais tive notícias da Clara depois disso.
Minha mãe nunca mais falou comigo direito depois disso.
Mas sempre tinha uma foto da Clara na mesa da sala.
E minha mãe sempre chorava quando olhava pro retrato.

Passaram-se mais alguns anos.
Rex não me abandonara ainda.
Ele falava e eu fazia.
Um dia eu quase matei um menino na escola.
Empurrei ele de cima de um brinquedo do playground.
Sabe aqueles que você vai subindo?
Pois é.
Chegamos no topo e ele falou que era o dono do mundo.
Rex falou pra eu empurrá-lo.
Pra eu ser o dono do mundo.
Peguei e empurrei.
Ele só quebrou a clavícula.
A diretora mandou chamar minha mãe.
Conversaram.

Foi aí que eu comecei a frequentar um cara que me fazia ficar deitado num sofá mó confortável.
Ele pediu pra eu contar de todas as experiência que eu tive.
Eu contei pra ele sobre Rex, apesar de Rex ter feito eu prometer que não falaria, eu achei que fosse seguro falar sobre Rex pra esse homem.
Me enganei.
De repente, mamãe estava falando que eu tinha que arrumar minhas malas que eu iria me mudar.
Eu não queria me mudar.
Mamãe não entendia que eu queria ficar em casa.
Rex falou pra eu brincar de artista circense de novo, mas dessa vez usando mamãe como assistente.
Peguei as 5 facas de novo.
E joguei.
Uma atrás da outra.
E eu a vi caíndo e sangrando.
E eu não fiz nada.
Enquanto ela caía, homens me seguravam e me amarravam com uma blusa estranha.

E foi assim que eu vim parar aqui.
Nesse quarto branco.
Com essa blusa branca.
Tudo branco.
Menos Rex.
Ele continuava vermelho.
E continuava comigo...