É, ainda estou aqui amarrado.
Nesse quarto branco com resquícios do vermelho.
Rex ainda está aqui.
Eu já tenho 16 anos.
Já perdi as contas dos dias que estou aqui.
Dos meses.
Dos anos.
Apenas as imagens de mamãe e de Clara me vêem a cabeça.
O vermelho-sangue que escorria delas.
Em todas as vezes que eu brinquei de artista circense.
Rex olha pra mim.
Ele sabe sobre o que estou pensando.
Ele também se lembra.
Ele não se arrepende de ter me ajudado.
Eu?
Eu nunca tive muita noção das minhas atitudes mesmo.
Como eu já disse, Rex sempre foi o mandante.
Huum.
Sirene tocando.
Daqui a pouco eles vêem abrir essas portas de vidro pra me levar pra comer.
E tomar remédio.
Eles falam que não é remédio.
Como se eu não soubesse o que é.
Tomo a mesma coisa há tanto tempo.
E eles falam que é pro Rex sumir.
Eu não quero que ele suma, então, ele não some.
Como eu disse, eles vieram.
Vestidos em seus uniformes brancos.
Calça branca.
Camiseta branca.
Sapato branco.
Cacetete branco.
Eu lembro bem desses cacetetes.
Eu tentava reagir no começo e eles usavam os cacetetes em mim.
Não que doesse muito.
Afinal, como é bem sabido, toda a dor que eu sinto, Rex também sente.
E como ele não gosta de sentir dor.
Ele dava um jeito de parar a dor.
Uma vez, ele me ajudou a segurar um dos seguranças, mas eles sempre estão em mais de 2, geralmente 3, então, eu apanhei até soltar o outro.
Tentamos isso diversas vezes, mas como sempre levávamos a pior, desistimos de lutar contra eles usando a força bruta.
Bom, voltando ao meu horário do lanche e remédios.
Eu já estava comendo.
Uma papa gosmenta, mas que eles falavam que era nutritiva.
Rica em proteínas e blá, blá, blá.
Eu não tinha amigos ali.
Nunca tive.
Rex sempre esteve comigo mesmo.
Aqui, todos eram robôs.
Robôs que tinham rotinas e não andavam direito.
Não andávamos direito pois tínhamos correntes de identificação nos pés.
Era um meio de dificultar alguma tentativa de fuga.
Lembra aquele filme do Nicolas Cage?
Pois é.
Era parecido com aquilo.
A rotina se dava pelo fato de que não havia nada para se fazer.
Os livros, eu já havia devorado.
A vista que eu tenho do parque, já não me entretem mais.
Ou seja, eu saio do meu quarto apenas para comer e tomar os malditos remédios.
E Rex continua sussurrando em meu ouvido.
Pedindo uma reação.
Formulando um jeito de escapar.
Mas está bom aqui.
É tudo branco.
Dá uma paz estranha.
Claro.
Tenho meu ponto vermelho.
Rex nunca me deixará.
Ele é um bom amigo.
Apesar de tudo...
Hahah'
ResponderExcluirMe lembro de ter comentado quando li esse conto (o inicio dele) que eu imaginava uma continuação. E qual não é a minha surpresa ao encontrar a continuação agora?!
E não deixou a desejar, pelo contrário. Superou as expectativas!
Sabe, ainda imagino muita história pra esse garoto e para o Rex.
Um dos teus contos que coloco na minha lista de favoritos (Depois do Memórias, claro!).
Hei, ainda quero ler MUITOS contos teus viu?
Beijão =*