quarta-feira, 6 de julho de 2011

Mesmos combustíveis

Outra garrafa de Stock.
Eu gosto disso.
Eu gosto de brincar com ela e vê-la pegando fogo.
Pelo menos ela pega fogo.
Há muito tempo tem sido tudo muito gelado dentro de mim.

Olho para o lado dessa cama.
Cama de casal.
Vazia.
Sempre vazia.
Vejo as garrafas no chão.
Sempre as mesmas garrafas.
Sempre os mesmos combustíveis.

Levanto daqui.
Meio grogue, meio tonto.
Passo direto pelo banheiro.
Não quero me ver no espelho.
Eles sempre me mostram o que eu não quero ver.
O poder da decomposição humana.
Não da carne.
Não cheguei ainda nesse estado.
Mas a decomposição do ser.
Do que sou.
Do que fui.

Desço as escadas.
Mesma roupa de ontem, mas por aqui ninguém parece notar.
O papel de parede manchado, rasgado, sujo e fedendo a mofo.
Acho que me acostumei à isso.

Atravesso os batentes da porta.
Tento me localizar.
Estou em algum lugar Luz.
Sei porque eu vim pra ca ontem a noite cantar:
"Se essa rua, se essa rua fosse minha.
Eu pegava, eu pegava todas as pedras.
Pra eu fumar, pra eu fumar, pra eu fumar.
E me acabar nessa merda de pedrinha."


Por sorte ou por azar, não sei dizer, eu não achei, ou não procurei com tanto afinco assim.
Sei que acabei parando nesse hotelzinho.
Com algumas garrafas de Stock e uma de Tequila.
Como disse, os mesmos combustíveis.

Mas eu apenas saio dessa vez.
Só para andar.
E respirar.
O pouco que eu ainda posso.

3 comentários:

  1. "Mas eu apenas saio dessa vez.
    Só para andar.
    E respirar.
    O pouco que eu ainda posso."

    E enquanto ainda pode, tomara que ande muito.

    Texto muito foda!

    Abraço!

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  2. Nossa!Muito bom esse texto,me senti meio que descrita,"Não quero me ver no espelho.
    Eles sempre me mostram o que eu não quero ver.
    O poder da decomposição humana.
    Não da carne.
    Não cheguei ainda nesse estado.
    Mas a decomposição do ser.
    Do que sou.
    Do que fui." e tbm a parte que o Felipe citou.Vc traduziu o que eu queria falar.Nossa.
    Beijo.

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  3. Cada vez melhor. Acho que eu sempre vou gostar do que você escreve e, nem que seja minimamente, com parte ou outro, me identificar.

    Volto a dizer, seus textos tem um quê que prendem, chamam.

    Beijão =*

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