segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Sujo e o Cinza

Enjaulado.
Engaiolado.
Sujo.
Só.

Olho para as grades na minha frente.
A platéia me olha.
Eles observam um animal.
Rodando.
Andando em circulos.
Nesse espaço pequeno em que o trancaram.

O animal olha a platéia com o sentimento contrário ao qual eles o olham.
A platéia o vê como um animal imponente, digno de uma escultura.
O animal olha a platéia como seres dignos de repulsa.
Com suas cores cinzas, com suas mentes cinzas, com sua vontade cinza.

Olho de novo a platéia.
Olho mais atentamente as grades.
Elas entram em foco.
De repente elas não estão mais separadas.
Estão juntas.
Caço a platéia cinza.
Não vejo mais as pessoas.
Vejo uma única pessoa.
Vejo a mim, preso aqui dentro.
Tentando me conhecer.
Tentando ver onde eu me perdi.

Eu estou sozinho aqui, nessa jaula.
Nesse quarto.
Onde sempre acabo enfiado.
Olhando nesse espelho que me reflete.

Reflete o cinza.
Cinza esse que não se dirige à cor do seu estojo de canetinha, mas se dirige à cor que está minha alma.
Meu corpo sem vida.

"Do pó viestes ao pó retornarás"

Cinza.
Sempre cinza.
Sempre cor de monotonia.
A cor da falta.
Falta de cor.
Nesse quarto sem papel de parede.
Sem vida.
Sem você.
Só o espelho e seu reflexo.
O Sujo e o Cinza.

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