terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mais um gole por favor.

Chuva.
Mais um gole.
Trânsito.
Mais um gole.
Ônibus lotado.
Mais um gole.
Pessoas respirando o mesmo ar.
Mais um gole.
Engarrafamento tocando alto no meu fone de ouvido.
A tiazinha do meu lado me olha assustada, ela consegue escutar o que eu estou ouvindo.
Mais um gole.

Mais um gole de cerveja, mais um gole de café amargo,
mais um gole de tédio, mais um gole de torpor.
Mais um gole de submissão, mais um gole de revolta.
Mais um gole de água pra fazer descer o remédio.

Mais um gole.
Um gole de você.
Um gole das promessas.
Um gole das atitudes.
Um gole dessa merda pra fazer descer rasgando a garganta.

Mais um gole disso tudo pra me fazer esquecer.

E como já foi dito.
Acende o fósforo, joga no copo.
Deixa pra sorte escolher o que vai acontecer daqui pra frente.

domingo, 28 de novembro de 2010

Catharina, Linton e Heathcliff

No som, Mentiras, Verdades e Conhaque.
No sangue, alcóol e o efeito das drogas lícitas que eu tomo.
Na cabeça, a imagem de Catharina e Linton de mãos dadas na esquina.
Agora eu entendo o egoísmo de Heathcliff.
Sinto na pele o que ele sentia.
O tamanho daquele amor estranho e solitário.
Amor esse que se vale pela oportunidade de uma vida mais em paz, com o submisso e alegre Linton.
Por isso eu me identifico com Heathcliff.
Eu não sou santo.
Eu não sou normal.
Eu gosto do sangue, das palavras sujas.
Você gosta da estabilidade e de sempre ser a dona da razão.
Linton deixa você ser assim.
Cego, idiota e mole.
Eu nunca deixei.
Na verdade, deixei sim, mas quando vi que você tava gostando disso, tentei mudar.
E quando mudei, você saiu da casa no Morro e foi pra Granja.
Você gosta de sempre ter a palavra final.
E isso, eu não suportava.
A indecisão de Catharina, a imposição de Catharina, o fingimento de Catharina.
Vá Catharina, aguardo ansiosamente a sua morte.
Não a física, não sou assim tão sem coração quanto você alegava.
Mas a psicológica, pois você continua sendo o fantasma que me assombra de noite.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Recusa de Grete

Quem irá me ajudar a sair do quarto?
Quem irá trazer à mim os restos da mesa?

Amigos, irmão.
Pessoas que se preocupam comigo.
Mas de que adianta, se eu não consigo me abrir direito.
Sair de trás de certos escudos é difícil.

Grete se assusta ao me ver.
Ela me olha, me encara e sai andando com o celular na mão.
Ela era a pessoa que me ajudava.
Hoje, ela me deixa embaixo dos lençóis e canapés.
Não me traz mais os restos, não quer mais mexer nos móveis para facilitar
a minha movimentação no quarto.

Senhor Gerente, entenda que hoje eu não consigo sair daqui.
Entenda que eu já não aguento mais viver assim.
Senhor Gerente, por favor, avise ao Senhor Chefe que este mundo está acabando.
Não foi você, Senhor Gerente, que disse que um dia tudo melhoraria?
Até hoje não vi seu sangue ser derramado.
Não vejo as chagas, não vejos os cortes, não vejo a redenção.
Vejo a burguesia que patrocinava as cruzadas, entupindo os próprios rabos com dinheiro sujo.
De que adianta colocarmos em nossos e-mail empresariais a merda de frase:
"Antes de imprimir, lembre-se do meio ambiente"
Porra, vocês queimam a floresta, devastam a natureza, montam ILHAS de sujeira no oceano,
criam lixões em que CRIANÇAS trabalham pra conseguir sustento.
Mas que caralho de Economia em avanço é essa?
Economia em avanço de cu é rola.
Uma queria aprovar o aborto, o outro é um manco cego e a única que se diz preocupada com isso
foi jogada pra escanteio.
Marionetes Políticas me dão nojo. Joguinho político me dá nojo.

Senhor, seu troco.

Aqui se faz, aqui se paga.
Prefiro assim.
Sei todas as merdas que faço.
Sei todas as merdas que fiz e que hei de fazer com certeza.
Então, pra que adiar o momento de pagar o agióta?
Quanta besteira.

E isso tudo aqui, meu caro caríssimo, são só as besteiras e baboseiras de uma mente insana.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Meu irmão que escolha a maneira pela qual prefere arruinar-se

"Meu irmão que escolha a maneira pela qual prefere arruinar-se. - dizia ele."


As vozes gritam.
As mãos batem em muros invisíveis pedindo por liberdade.
As lágrimas escorrem, lamentando a esperança perdida.
O sangue escorre pelas unhas quebradas de tanto arranhar as paredes tentando, em vão, chamar alguma atenção.
Os pés, cansados de manterem o corpo inteiro ereto, dóem ao tentar se manter firme por cima das bolhas criadas.


Descendo a Augusta me deparo com uma pintura que, toda vez que eu olho, percebo como nós, humanos, esquecemos de nossos semelhantes.
Pra quem não sabe, é uma pintura em frente ao Econ, quase perto do Anhangabaú.
É um homem, pintando com as próprias mãos, (e até hoje eu acho que a tinta q ele usa é o próprio sangue), a frase Eu Existo.
Vemos que nos esquecemos das pessoas.
Vivemos tão alienados no mundo: Acordar, Trabalhar, Ganhar dinheiro, Fazer uma Faculdade, Casar com a merda da Boneca de Porcelana, Ter dois filhos.
Estamos tão ligados à esse estereótipo, à esse padrão de vida imposto pela mídia, que nos esquecemos das pessoas.
Famílias se unem hoje pelo amor...Amor ao dinheiro, amor ao status, amor ao sobrenome.
Quando digo que desacreditei no amor, eu estava mentindo, afinal, o que é o amor?
Alguém já descobriu o que é esse sentimento de verdade?
Borboletas no estômago?
Frio na barriga?
Perna bamba?
Desculpa, isso pra mim são sintomas de Dorgas, ou coisa do genero.


"Meu irmão que escolha a maneira pela qual prefere arruinar-se. - dizia ele."



Nós escolhemos nos arruinarmos a cada tecnologia destrutiva que inventamos.
O ser-humano é o único animal que inventa métodos de como acabar com a vida de outros seres-humanos e de quebra, acabar com a vida do pouco que resta de natureza.
E depois dizem que somos animais racionais.


E isso meu caro caríssimo, é só um terço do que fazemos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A primeira impressão é sempre a que fica

Pois é. A primeira impressão é sempre a que fica.
Bonequinha de porcelana, toda magrinha, branquinha, com carinha de frágil.
Isso pela meu saco.
Eu gosto de sangue, eu gosto de cuspe, eu gosto de xingos.
Eu gosto de sentir a pele de minhas costas se rasgarem com as suas unhas.
Eu gosto disso.

Bonequinha não é pra mim.
Como eu disse, eu sou aquele boneco de posto.
Vazio e sujo. Abandonado.
Nem as crianças que passam por mim me olham mais.
Eu preciso disso tudo pra me sentir vivo.

"Vai Prometeu, troque de lugar comigo, me acorrente com teus grilhões, mas por favor, fale para a Águia que come tuas entranhas, comer meu coração. Quem sabe assim eu paro de sentir esse aperto, essa dor. Mas acrescente à ela e, aqui, eu rezo e peço, que não restaure meu coração no dia seguinte, pois sei que, assim que ele for restaurado, voltarei a sentir essa dor maldita. 
Me deixe sem sentir nada, por favor.
Por pelo menos um maldito dia.
Por pelo menos um maldito dia não me deixe sentir, não me deixe sofre.
Pois é meu caro caríssimo, é nessa merda que eu estou.
Esta história não tem um herói, ela só fala de lágrimas, sangue e destruição. Não meu caro caríssimo, ela não fala de uma princesa adormecida e sim de uma donzela que pega um punhal e crava ele no teu peito, fode com a tua vida e sempre volta para torcer o maldito punhal.
É meu caro caríssimo, esta vida não me satisfaz mais." 

É caro caríssimo, preciso me sentir vivo pra suportar o peso que vem em minhas costas.