domingo, 24 de abril de 2011

Saltimbancos

"Nós gatos já nascemos pobres.
Porém, ja nascemos livres.
Senhor, senhora e senhorio.
Felino não reconhecerás"

É, está passando Saltimbancos num desses teatros do Centro.
É, eu estou do lado de fora claro.
Nunca conseguiria entrar para ver.
Mas estou ouvindo.
Ouvindo e pensando em quanto a minha vida se pareceu com esse trecho da música.

Eu nunca fui alguém que segui regras.
Eu nunca fui alguém que me ajoelhei perante escrituras manchadas de sangue.


Agora estou aqui.
Não que me importe de vagar sem rumo por essas ruas que conheço tão bem.
Realmente não me importo.
Só me importo de estar em um lugar que Holden nenhum viria me procurar.
Só me importo de nunca ter sido um Dorian para alguém querer me pintar.
Minhas Alices, Bonecas e Emílias. Todas bonecas de pano e trapo.
Elas todas ficaram para trás.

Ouço de novo o refrão.

"Nós gatos já nascemos pobres.
Porém, ja nascemos livres.
Senhor, senhora e senhorio.
Felino não reconhecerás"

Me vejo sempre naquele quarto de espelhos.
Vazio.
Sem um corpo estranho pra poder abraçar.
Na verdade.
É sempre um corpo estranho que eu abraço.
Sempre vários corpos estranhos.
Nunca um único corpo que fica tempo o suficiente pra se torna conhecido.
É disso que faz a minha vida vazia.
A falta de reconhecimento no que fica entre meus braços durante uma noite.

É.
Me assusta tanto não ter ninguém pra abraçar.

domingo, 17 de abril de 2011

O Homem de Lata Preenchido.

Ponha o ouvido no meu peito para ver se está perfeito.
Mas que tum-tum-tum é esse?
É um coração.  O ferreiro voltou e me deu um.
Maravilhoso, que ritmo.
É, é maravilhoso.

É, essa celebração vai realmente marcar.
Sim, vai.
Pelo simples fato de uma pergunta respondida.
Uma pergunta que eu vinha procurando o momento certo para fazer.
Uma pergunta que, mesmo sabendo qual seria a resposta, eu tinha medo de fazê-la.

É assim mesmo.
Uma certa insegurança, mas já foi.
Eu já passei por todos os testes e consegui descobrir que o eco do Homem de Lata já não existe mais aqui.
Uma ferreira, com um sorriso que me conquistou na primeira vez que eu vi.
Um jeito engraçado de viver.
Uma história parecida com a minha.
E sem ligação com o meu passado.

Você será para sempre o meu presente.
Nada de futuro.
Nada de passado.
Eu só quero viver o agora.
Com você.
Sem mais.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Espelhos e seus reflexos malditos

Eu me vejo aqui sentado.
No meio desse quarto de espelhos.
Espelhos no teto.
Espelhos na minha frente.
Espelhos ao meu redor.

Esse sujeito sujo, com a barba mal-feita, olheiras escuras sob os olhos refletido nos espelhos sou eu.
Sou eu refletido em todos os angulos.
E em todos os angulos, eu estou assim.
Acabado.

O cenário é sempre o mesmo.
Eu não consigo sair disso.
É um quarto sujo.
Com a roupa de cama manchada com espermas alheios.
Cheiro de podridão no ar.
É, como sempre, estou no Centro.
Com uma garrafa de bebida na mão, o saquinho de pade na outra, e uma arma imaginária na cabeça.
É sempre assim.
Eu me vejo afundando.
Eu me vejo disparando a arma.
Eu sei que estou quase lá.
Mas nunca tenho coragem.

Me levanto.
Saio do quarto.
Desço as escadas.
O papel de parede está desgastado.
O corrimão está todo quebrado.
É apenas mais um hotel barato.

No Hall de entrada, os mesmos indivíduos de sempre.
Como eu, eles não mudam.
É a prostituta de 20 reais a hora.
É o mendigo que consegue um abrigo pra passar a noite.
Um homem no fim da vida, esquecido por todos e se esquecendo de todos.

É, esse último sou eu.
Parece que tem espelhos no hotel inteiro.
Eu sempre acho um jeito de me ver refletido neles.

Saio porta afora.
Tento respirar fundo, mas os anos fumando me impedem de conseguir uma boa respirada sem tossir.
Olho para frente.
São bento?
15 de Novembro?
Não lembro mais direito onde estou.
Não sei como vim parar aqui na verdade.
Eu sempre ando sem direção, tentando achar um caminho que me leve para longe daqui.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Dois meses

2 meses.
É isso.
São dois meses com você.
Dois meses que passaram tão rápido que eu nem percebi.
Dois meses que você tem me feito esquecer do passado.
Dois meses que você tem me feito viver o presente.
Dois meses que você tem me feito pensar no futuro.

E dizem que, logo após uma tempeste, sempre vem a calmaria e o arco-íris.
É clichê, mas você é meu pote de ouro.
Depois de todo o caminho que eu percorri.
Depois de todos os caminhos em brasa que eu andei por cima com meus pés descalsos.
Eu encontrei você.

Com um sorriso no rosto.
Uma risada tão engraçada quanto a minha.
Um abraço aconchegante.
E um jeito estranho de dizer que gosta de mim.
Foi assim que você foi me conquistando.
Aos poucos.
Como tem que ser.

Já dizia o velho ditado não é mesmo?
A pressa é inimiga da perfeição.
É, estamos sem pressa.
Sem correria.
Só vivendo.
Nossas curtas vidas de fim de semana.
Fins de semana esses que param quando estou com você.
Na verdade, o mundo para, pois o relógio é ingrato e teima em acelerar diminuindo as horas que eu posso passar com você.

É isso.
Isso tudo só pra dizer que sim, eu te amo.
Obrigado pelos dois meses.
Obrigado por ser tudo isso pra mim.
Um caminho plano logo após um caminho de brasas.
Um pote de ouro no fim do arco-íris logo após uma tempestade que eu jurei que não teria fim.
Uma pessoa, como outra qualquer, mas que me faz sorrir a cada mensagem, a cada oi, a cada sorriso.
Obrigado.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Espólios de uma Guerra e uma Cama Parcialmente Vazia.

E mais uma noite sem ela.
Após me despedir, de deixá-la para trás daquele portão automático, me deu uma vontade insana de voltar.
De abraçá-la e ficar com ela até 1 da manhã, como sempre fico.
Mas eu virei as costas e parti.

Claro, parti pra lavar a alma.
Parti para matar saudades.
Parti para limpar meu corpo, deixá-lo pingando suor.
Socar sem remorso qualquer um.
Apenas pelo prazer de sentir meu punho acertando alguém e depois rir disso.
Claro, eu sou acertado também.
Espólios de Guerra.

Mas, ao deitar em meu quarto, após meu corpo relaxar, eu sinto tudo.
Não só as dores.
Mas o vazio.
O vazio que me assola.
Mas dessa vez não é um vazio "ruim".
É só a sensação de falta.
A falta que você faz na minha cama.
Aquele corpo quente, mas que precisa de mim pra realmente não passar frio a noite.
Aquele cabelo loiro que, às vezes, acordo de madrugada só para ficar acariciando.
Só porque eu sei que, nem por decreto, você acordaria.

Hoje eu deito até mais na beira da cama, só pra poder deixar o seu espaço ali.
Aquele cantinho, na parede, que você tanto gosta.
Só pra saber que você tem um espaço reservado na minha cama.

É, eu te amo Bárbara. De verdade. <3

terça-feira, 5 de abril de 2011

O Espelho com Insulfilm

Nas sombras de anos vivendo numa dependência química, eu me vejo me afastando de você.
Nas sombras de anos vivendo numa depêndência física, eu me vejo me afastando de você,
Nos anos em que eu fui o cagado, eu achava que era a melhor das opções, a melhor das escolhas.
No final, eu fui o " é o que tem pra hoje ".
No final, eu não fui uma escolha, eu fui a sobra.

Enquanto me vejo aqui parado, olhando o buraco que diz tudo isso sobre mim, eu consigo ver também, o que se passa atrás de mim.
Fora de tudo isso.
É como se eu estivesse olhando um espelho filmado saca?
Na frente, eu vejo a escuridão.
Mas refletida nela, eu vejo o Clarão que vem em minha direção, me puxando de tudo.
Claro, esse Clarão só veio agora.
Agora que eu me permiti ser realmente puxado.

É, tudo me vem aqui.
Agora.
Sentando nessa cadeira quebrada.
Segurando essa latinha de cerveja quente.
Ouvindo músicas que me façam pensar em um brilho, um brilho que veio sem querer na minha vida.

É, é bem assim.
Eu levanto, deixo as sombras, os medos para trás e vou viver.

"Me faz viver, me faz pulsar, me dá razão pra continuar"

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Querer e Precisar

Querer e Precisar.

O lance é o seguinte.
O Querer é uma coisa simples e, num relacionamento, é muito menos prejudicial do que o precisar e eu vou explicar isso aí.
Por exemplo:
" Eu QUERO você "

Isso, não importa o sentido, seja querer no intuito sexual ou apenas querer a pessoa ao seu lado, é menos nocivo.
Você que é livre.
Mas aí tem o lance da frase possessiva, o que não é legal pelo seguinte motivo. A frase demonstra que a outra pessoa não tem direito de escolha.
Nesse caso o melhor é a frase:
" QUERIA você aqui."
Isso deixa, implicitamente, as mesmas coisa do 'quero', mas ao mesmo tempo dá a impressão que o outro tem a liberdade de escolha.

Bom, agora que o mais simples foi explicado, vamos falar do PRECISO.

Aqui é onde um relacionamento começa a, literalmente, FUDER DE VEZ.
Vou explicar.
Quando você precisa, é porque É UMA NECESSIDADE!
Um exemplo.
Você tá com uma puta caganeira.
Você vai no banheiro e solta até a alma.
Quando você vai pegar o papel... CADÊ?
É isso aí.
Todo o seu mundo está girando em torno do papel.

Voltando ao relacionamento, quando isso acontece, de você depender do outro, aquele que depende é o sempre mais pisado, porque o outro sabe que tem o controle.

E bem.
Foi isso que eu fui.
O cagado precisando do papel.
Fui a Terra girando em torno de um Sol.
É, fui isso sim.