quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Madona e o Elevador

Dou um gole nessa bebida amarga e fecho os olhos.
...
Abro os olhos e me vejo naquele quarto escuro.
Com os papéis de parede descascados.
Com o lustre piscando.
O mesmo cenário vivido há tanto tempo atrás.

Os cobertores com pernas.
A sujeira na rua.
O cheiro de mijo na rua.

Na janela, aquelas mesma sujeiras da bituca de cigarro.
O coco de pomba endurecido.

Na estante, os companheiros de sempre.
Buk, Tolstói e aqueles velhos podres que todos conhecemos.

No rádio?
Algo sobre comer a Madona e um elevador estranho.

Na cama?
Um cabelo preto.
Um braço cheio de pintas.

Na mesa?
Álcool.
Algumas latas de cerveja.
Uma garrafa de tequila barata.

E, como sempre, eu apenas saio.

Não gosto do cenário.
Não gosto dessa história.
Gosto apenas do cheiro de podridão dessa cidade.