sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Conto Sobre Rex

Eu já tive um amigo imaginário sabia?
É, eu estou falando com você que está lendo isso aqui.
Se você está lendo isso...
É porque eu te dei pra ler oras.
Você não achou isso em lugar algum.

Então, voltando à história do amigo imaginário.

Eu devia ter uns 5, 6 anos quando criei o Rex.
Bem.
Hoje, eu só lembro que o Rex era vermelho.
E que me acompanhou até os 12 anos.
Foi quando eu fui internado aqui.

É, Rex foi um bom causador dessa internação.
Ele mandava eu fazer as coisas.
Algumas eram engraçadas.
Outras nem tanto.


Ele era mais engraçado quando eu tinha meus 6, 7 anos.
Ele fazia eu pular do 5 degrau da escada de casa e cair no sofá só pra ver a mamãe pular de susto.
Era engraçado ver a cara dela.
Tudo bem que não foi legal quando a gente foi fazer isso e erramos o sofá.
Quebrei o braço.
A gente sentiu uma dor desgraçada.

Aos 9 anos Rex me desafiou à brincar de artista circense.
Sabe aqueles filmes em que os artistas de circo amarravam suas assistentes numa roda e ficavam atirando facas?
Então.
Rex me desafiou à ser um desses artistas.
Só que eu não tinha um assistente.
Foi aí que eu vi a Clara.
Clara é minha irmã.
Ela tinha 7 anos na época.
Ela sempre fazia o que eu pedia.
Ela me adorava e eu a amava.
Ela perguntou do que eu estava brincando.
Eu falei que eu era um artista circense e que precisava de uma assistente.
Ela falou que queria ser minha assistente.

Antes de continuar a história, quero descrever como era minha irmã.

Somos descendentes de alemão, então, é óbvio que fossemos loiros, correto?
Errado.
A parte alemã é da minha mãe.
Meu pai é descendente de italiano.
Logo, temos o cabelo beem escuro e os olhos bem claros.
É assim que Clara era.
Pequena, na altura da minha cintura mais ou menos.
Cabelo no meio das costas.
Sempre com um sorriso na cara.
Acho que ela também tinha um amigo imaginário.
E assim era minha irmã.

Voltando à minha experiência como artista circense.

Armei tudo, ou quase tudo.
Eu não tinha uma roda que ficasse girando enquanto minha assistente ficava lá presa e eu atirando as facas.
Mas eu amarrei a Clara numa árvore e falei que tava bom.
Rex aprovou.
Peguei 5 facas.
Acho que estava bom.
Clara sorriu pra mim.
Nunca esquecerei daquele sorriso.
Lá se foi a primeira faca.
Passou direto por ela e pela árvore.
Ela continuou com o sorriso, me mostrando coragem e me dando confiança.
A segunda foi.
Passou direto também, mas pegou no braço da Clara, de raspão, mas cortou.
O sorriso dela sumiu e ela começou a se debater pra sair.
Eu quis parar, mas Rex falou pra eu tentar acalmá-la e continuar.
Eu senti uma risada estranha de Rex surgindo dentro de mim, mas fiz o que ele falou.
Assim que eu pedi pra Clara se acalmar e confiar em mim, ela parou.
Ela sempre me ouvia e confiava em mim.
Joguei as outras três facas restantes uma atrás da outra.
Foi aí que aconteceu tudo muito de repente.
A 3ª faca acertou direto no estomago dela e ficou presa lá.
A 4ª atingiu a perna e também ficou lá.
A 5ª passou direto.
Clara estava gritando de dor.
Eu corri e a desamarrei.
Mamãe chegou e viu a cena.
Ela ficou branca.
Pegou a Clara e a levou ao hospital.
Fiquei sem notícia das duas durante o resto do dia.
Ficava olhando o sangue no jardim e brigava com Rex.
Rex falou que a culpa era minha, ninguém mandou eu não ter mira.
Eu concordei com ele.

Quando mamãe voltou, ela me olhou com uma cara que me deu medo.
Clara não havia morrido, disse ela, mas ela não ficaria mais com a gente.
Eu perguntei porque.
Ela disse que a culpa era minha.

Nunca mais tive notícias da Clara depois disso.
Minha mãe nunca mais falou comigo direito depois disso.
Mas sempre tinha uma foto da Clara na mesa da sala.
E minha mãe sempre chorava quando olhava pro retrato.

Passaram-se mais alguns anos.
Rex não me abandonara ainda.
Ele falava e eu fazia.
Um dia eu quase matei um menino na escola.
Empurrei ele de cima de um brinquedo do playground.
Sabe aqueles que você vai subindo?
Pois é.
Chegamos no topo e ele falou que era o dono do mundo.
Rex falou pra eu empurrá-lo.
Pra eu ser o dono do mundo.
Peguei e empurrei.
Ele só quebrou a clavícula.
A diretora mandou chamar minha mãe.
Conversaram.

Foi aí que eu comecei a frequentar um cara que me fazia ficar deitado num sofá mó confortável.
Ele pediu pra eu contar de todas as experiência que eu tive.
Eu contei pra ele sobre Rex, apesar de Rex ter feito eu prometer que não falaria, eu achei que fosse seguro falar sobre Rex pra esse homem.
Me enganei.
De repente, mamãe estava falando que eu tinha que arrumar minhas malas que eu iria me mudar.
Eu não queria me mudar.
Mamãe não entendia que eu queria ficar em casa.
Rex falou pra eu brincar de artista circense de novo, mas dessa vez usando mamãe como assistente.
Peguei as 5 facas de novo.
E joguei.
Uma atrás da outra.
E eu a vi caíndo e sangrando.
E eu não fiz nada.
Enquanto ela caía, homens me seguravam e me amarravam com uma blusa estranha.

E foi assim que eu vim parar aqui.
Nesse quarto branco.
Com essa blusa branca.
Tudo branco.
Menos Rex.
Ele continuava vermelho.
E continuava comigo...

2 comentários:

  1. Gostei do conto!
    Já disse que você tem talento, não?! Falta o livro haha'

    Quanto ao conto em si, ácido!
    História forte. Me fez imaginar cada cena...e também imaginar uma continuidade; não menos assustadora, devo dizer.

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