domingo, 24 de abril de 2011

Saltimbancos

"Nós gatos já nascemos pobres.
Porém, ja nascemos livres.
Senhor, senhora e senhorio.
Felino não reconhecerás"

É, está passando Saltimbancos num desses teatros do Centro.
É, eu estou do lado de fora claro.
Nunca conseguiria entrar para ver.
Mas estou ouvindo.
Ouvindo e pensando em quanto a minha vida se pareceu com esse trecho da música.

Eu nunca fui alguém que segui regras.
Eu nunca fui alguém que me ajoelhei perante escrituras manchadas de sangue.


Agora estou aqui.
Não que me importe de vagar sem rumo por essas ruas que conheço tão bem.
Realmente não me importo.
Só me importo de estar em um lugar que Holden nenhum viria me procurar.
Só me importo de nunca ter sido um Dorian para alguém querer me pintar.
Minhas Alices, Bonecas e Emílias. Todas bonecas de pano e trapo.
Elas todas ficaram para trás.

Ouço de novo o refrão.

"Nós gatos já nascemos pobres.
Porém, ja nascemos livres.
Senhor, senhora e senhorio.
Felino não reconhecerás"

Me vejo sempre naquele quarto de espelhos.
Vazio.
Sem um corpo estranho pra poder abraçar.
Na verdade.
É sempre um corpo estranho que eu abraço.
Sempre vários corpos estranhos.
Nunca um único corpo que fica tempo o suficiente pra se torna conhecido.
É disso que faz a minha vida vazia.
A falta de reconhecimento no que fica entre meus braços durante uma noite.

É.
Me assusta tanto não ter ninguém pra abraçar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário