quinta-feira, 14 de abril de 2011

Espelhos e seus reflexos malditos

Eu me vejo aqui sentado.
No meio desse quarto de espelhos.
Espelhos no teto.
Espelhos na minha frente.
Espelhos ao meu redor.

Esse sujeito sujo, com a barba mal-feita, olheiras escuras sob os olhos refletido nos espelhos sou eu.
Sou eu refletido em todos os angulos.
E em todos os angulos, eu estou assim.
Acabado.

O cenário é sempre o mesmo.
Eu não consigo sair disso.
É um quarto sujo.
Com a roupa de cama manchada com espermas alheios.
Cheiro de podridão no ar.
É, como sempre, estou no Centro.
Com uma garrafa de bebida na mão, o saquinho de pade na outra, e uma arma imaginária na cabeça.
É sempre assim.
Eu me vejo afundando.
Eu me vejo disparando a arma.
Eu sei que estou quase lá.
Mas nunca tenho coragem.

Me levanto.
Saio do quarto.
Desço as escadas.
O papel de parede está desgastado.
O corrimão está todo quebrado.
É apenas mais um hotel barato.

No Hall de entrada, os mesmos indivíduos de sempre.
Como eu, eles não mudam.
É a prostituta de 20 reais a hora.
É o mendigo que consegue um abrigo pra passar a noite.
Um homem no fim da vida, esquecido por todos e se esquecendo de todos.

É, esse último sou eu.
Parece que tem espelhos no hotel inteiro.
Eu sempre acho um jeito de me ver refletido neles.

Saio porta afora.
Tento respirar fundo, mas os anos fumando me impedem de conseguir uma boa respirada sem tossir.
Olho para frente.
São bento?
15 de Novembro?
Não lembro mais direito onde estou.
Não sei como vim parar aqui na verdade.
Eu sempre ando sem direção, tentando achar um caminho que me leve para longe daqui.

Um comentário:

  1. "Eu me vejo afundando.
    Eu me vejo disparando a arma.
    Eu sei que estou quase lá.
    Mas nunca tenho coragem."

    Ponto alto do texto!
    E, pra ser bem sincera, significou muito pra mim.

    -
    Sempre consigo me fazer entrar nas cenas descritas nos seus textos, como alguém que vigia tudo de longe. Vou dizer, novamente, que é o seu jeito de escrever que faz isso!

    ResponderExcluir