terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

E de novo, no mesmo bar, no mesmo albergue.

Que calor!
Abro os olhos e passo a mão na testa.
Molhada.
Calor infernal.
Lá fora.
Aqui dentro, vivemos num eterno inverno.
Sempre frio.

Levanto dessa cama onde traças e baratas passeiam livremente por sobre os lençóis.
Abro a porta do banheiro e olho o espelho.
É, eu tenho uma coisa com espelhos.
Eles nos refletem saka?
Refletem o nosso exterior.
Ainda bem que é o exterior.
Se fosse o interior, acho que eu não aguentaria me ver refletido.

Espelho, espelho meu.
Existe alguém mais derrotado do que eu?
Existe alguém mais acabado do que eu?
Sim, eu sei que existe.
Mas tem horas que você se sente o pior ser vivo que pisa na Terra.
Cabelo grande e embaraçado.
Barba por fazer à 2 semanas já.
Olheiras iguais as marcas de um panda.
Insônia.
Morfeu não consegue vir à mim.
Eu choro, imploro, mas nada.

E quantas vezes eu gritei pra não me sentir só, tentando me iludir, mas tudo cai ao meu redor.

Saio da frente do espelho.
Isso é realmente deprimente.
Ligo o chuveiro e deixo a água cair sobre o meu corpo.
Olho pra baixo e vejo as marcas.
Marcas das minhas fraquezas.
Vejo os pontos finos no braço.
Vejo as marcas dos cortes.
Cicatrizes brancas que ficarão pra me lembrar dos erros tolos que cometi.

Vejo que já errei demais.
Vejo que já me machuquei vezes demais.
Auto-flagelo.
Auto-punição.
Mas, auto-piedade cade?
Enfim.

Saio do chuveiro e me troco.
Olho pra fora, pela janela quebrada e vejo aquele Sol de fritar neurônios.
Coloco uma bermuda, uma regata e um chinelo.
Desco as escadas do albergue.
Dou boa tarde aos moradores.
A puta que é a minha vizinha, que cobra 20 reais a hora.
O gordo que fica sentado o dia inteiro no sofá que tem no Hall do albergue.
Todos eles estão aqui, junto comigo, porque não tem lugar melhor e ninguém que se importe com eles.
Saio do albergue.
Atravesso a rua.
Entro no bar.
E começo a beber.
A mesma bebida, no mesmo bar, com os mesmos transeuntes.

2 comentários:

  1. Eu não sei. Você tem um "quê" para escrever que é diferente. Não sei dizer. Prende do começo ao fim.
    Talvez pelos textos serem reais de mais, não importa o quanto de irrealidade tenha.
    Deve ser por isso.

    Não comentei, mas li os textos anteriores também. Todos com o mesmo 'quê'.
    Todos tão reais e tão tristes também.
    Mas eu já disse e volto a repetir, gosto muito do que você escreve, de como você escreve!

    Beijãao =*

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