quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Conto Que Aumenta um Ponto

Venho por meio desta, caros amigos, lhes dizer como um ponto aumenta a cada conto dito por outro alguém.

Tudo aconteceu em meados de... Ah, parei com a palhaçada de datas.
Basta vocês saberem que, o que for contado aqui, aconteceu há alguns anos.
Basta vocês saberem que, o que for contado aqui, se passou em outra época.
Talvez seja uma história minha.
Talvez seja uma história de outros.
Mas é uma história.
E a mim, cabe a responsabilidade de contá-la.

Calma jovem!
Você quer saber o porque cabe a mim contá-la?
Leia o conto meu jovem.
Leia e entenda.

O que se passa aqui é um relato.
Um relato que diz respeito ao poder de dissimulação.
Um relato que diz respeito ao poder de pontuar uma história.
Erroneamente.

Ela vinha sempre alegre.
Porém, em cada passo trôpego, eu via as manchas de seu rímel escapando pelo seu queixo.
Ela vinha sempre sorrindo.
Porém, em cada trago de seu cigarro barato, eu via o sorriso amarelo, a máscara de seu teatro caindo.
E sempre pedia uma dose.
Do que de mais forte ela pudesse tomar com os poucos trocados que ela tinha no bolso.

A vi tragando o cigarro e, antes de soltar aquela fumaça branca, ela entorna o líquido, meio amarelado de seu copo.
A vejo segurando a bancada desse bar.
Acho que a dose foi muito forte para ela dessa vez.
Ela senta no banco.
O banco range e bamboleia.
Típico banco redondo de boteco.

E fico ali por horas.
Apenas observando ela e seus copos.
Apenas observando ela e seus cigarros.
Apenas observando ela e sua máscara.
Meio torta, meio caída, meio desmantelada.
Tudo de meio.
Meio alegre, meio triste.
Meio forte, meio fraca.

No meio de toda essa análise, os nossos olhares se cruzam.
O que ela vê?
O que ela entende?
O que ela observa?
Eu vejo o rímel continuar a escorrer.
Eu vejo a garganta dela subir e descer enquanto a bebida adentra em seu corpo.
O pulmão enchendo com a fumaça nicotinada de seu cigarro de 2 reais.

Eu levanto.
Cansei desse canto escuro.
Olho ao meu redor.
Os papéis de parede desgastados.
É o meu ambiente favorito.
Ela continua a me olhar.
Me encarar.
E eu saio do bar.

Sento num banco de uma praça qualquer.
Qual é o conto dessa mulher?
Quando um conto tem sua pontuação?
Cada gota de rímel manchado que caía, era um ponto em sua história.
Um ponto final.
Um ponto que declarava o fim de seu conto.
O conto de fadas mais velho.

Não meu jovem, não cabe a mim contar os segredos de travesseiro daquela mulher.
Não cabia a mim desvendar e despontuar todos os pontos de seu conto.
Cabe a mim e só a mim, pontuar esse conto.
O conto sobre uma máscara de teatro manchada, um pulmão inalando nicotina e o alcóol em seu suor.

Um comentário:

  1. Vou me declarar pra você AGORA! Haha'

    Um conto! *-*
    Você sabe que eu gosto dos teus contos, né?! Você é realmente bom nisso. Sabe como deixar curiosidade.
    Aguardo a continuação!

    =*

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