O buraco ainda tem aquela fresta.
Ainda existe aquela passagem de ar.
Por ali ainda passam vestígios de luz.
Com seus passos pesados e sua respiração forçada, ele se aproxima da porta.
Ele primeiro encosta o ouvido.
Apenas um único ruído.
Ele nunca ouviu esse barulho.
Ele não sabe precisar o que é de fato esse barulho.
Ele olha pra trás, com a indagação plantada em seu rosto.
O Outro também não sabe o que é.
Hyde está indeciso.
Ali parado na porta aberta, ele pensa em sair.
Jeckyll, mais receoso, fica ali atrás.
Com sua mão firme, Hyde abre a porta do buraco.
E vê o mundo fora pela primeira vez.
Ele consegue ver os raios do Sol chegando no solo.
Ele consegue ver os ácaros flutuando no ar.
Ele consegue ver onde está.
É um quintal.
Grama verde, uma rede.
E o mesmo ruído ao longe.
-Venha Jeckyll, não tem nada aqui fora. Só esse barulho estranho. - disse Hyde com a mão pra dentro do buraco
Jeckyll, mais receoso, segura na mão de Hyde e se deixa levar.
-Esse é mesmo o lado de fora Hyde? - disse Jeckyll espantado.
-É sim Jeckyll - Hyde diz enquanto solta da mão de Jeckyll e respira fundo.
O barulho, aquele ruído, continua vindo.
Dessa vez eles reconhecem a origem do barulho.
Vem dos fundos da casa.
A cada passo que dão, mais alto fica o barulho.
Falhada, estridente.
-Hyde, isso é uma risada. Eu li isso em algum dos meus livros - Jeckyll, como sempre, ensina Hyde.
Quando chegam, se espantam.
A Voz está lá.
Com outra sombra.
Outra forma junto a ele.
Encostada em seu peito.
Enquanto riem de alguma piada dita.
A Voz vê os dois.
Os dois encaram a Voz.
A Voz sorri para eles e os convida pra sentar.
Hyde ameaça ir, porém Jeckyll o segura e balança a cabeça.
A Voz entende e sorri.
Entende que eles não precisam estar ali.
Eles não precisarão se esconder mais no porão e não precisam ficar presentes.
Hyde e Jeckyll saem.
Com seus passos pesados e leves.
Seus ombros arqueados e a cartola de Jeckyll arrumada.
Ambos saem.
E deixam o barulho do riso preencher o dia.
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